Chanucá

 

 

 

 

Capítulo 8

Com louvor e agradecimento

 

 

E fixaram estes oito dias de Chanucá com louvor e agradecimento”

(texto de Al Hanissim)

 

Olhando o texto de “Al Hanissim”, recitado na amidá e no Bircat Hamazon dos oito dias de Chanucá, parece que o principal serviço da festa de Chanucá é louvar e agradecer. Não está escrito “fixaram que se deve louvar e agradecer nestes dias”, mas sim os próprios dias em sí foram fixados para o agradecimento: “E fixaram estes oito dias de Chanucá com louvor (Halel) e agradecimento” (conforme o rito sefaradi). No rito ashkenazi, isso é mais enfatizado ainda: “E fixaram estes oito dias de Chanucá para louvar e agradecer ao Teu Grande Nome” – ou seja, o agradecimento é o objetivo da fixação destes dias. Mais ainda escreve o Tur

[1]: “Pois [nossos Sábios] somente determinaram que devemos louvar e agradecer – e não fazer refeições e alegria”.

A pergunta que surge é a seguinte: no que esta festa difere de todas as demais – como Pêssach e Purim – que também foram fixadas devido à salvação de Israel e nas quais o agradecimento é somente parte (importante) das mitsvot do dia, mas não o centro de tudo?

*

Outros questionamentos

Para responder isto, é preciso primeiramente prestar atenção a algumas perguntas difíceis sobre Chanucá:

1) Os decretos dos gregos foram contra todo o Povo de Israel, o que significa (no ponto de vista espiritual) que havia algum pecado pelo qual nosso povo deveria fazer teshuvá (arrependimento). Contudo, não encontramos em nenhum lugar que o Povo de Israel em geral mudou sua conduta para trazer a redenção, diferentemente do que aparece no resto da história: para sair do Egito, o povo fez circuncisão e a oferenda de Pêssach, para assim terem o mérito de serem redimidos. Em Purím, o povo judeu inteiro fez teshuvá e recebeu sobre sí a Torá e suas mitsvot novamente. Em Chanucá, somente um punhado de judeus – os chashmonaím – deram suas vidas para lutar (em honra da Torá) contra os gregos. Como é que o mérito destes poucos foi suficiente para salvar o povo como um todo? Se todo o povo pecou, todos deveriam ter feito teshuvá!

2) Por que os chashmonaím, que eram cohanim (ou seja descendentes da tribo de Leví), subiram ao poder tomando para si o reinado – contrariando a lei que define que o reinado nunca deve ser de indivíduos que não sejam da tribo de Yehudá

[2]? Mesmo se assumirmos que esta atitude foi de fato um pecado (conforme explica o Ramban em parashat Vayechi), qual foi o motivo de terem cometido este engano? Afinal, tratava-se de pessoas muito justas

[3] que com certeza não agiriam contra a lei, se não fosse por algum equívoco. Mais ainda: o próprio Cohen Gadol (sumo sacerdote), quando entrava no Kodesh Hakodashim (o Santo dos Santos – recinto mais sagado do Templo) em Yom Kipur, orava a D’us pedindo que o reinado não saísse da tribo de Yehudá. Com certeza alguém assim não iria agir propositadamente para que ocorresse o contrário sem ter um motivo muito importante

[4].

3) No texto de Meguilat Antiochus consta que os gregos decretaram que os judeus estavam proibidos de cumprir principalmente três mitsvot: Shabat, Rosh Chôdesh e a circuncisão. Para compreender o episódio de Chanucá e a intenção dos gregos, é essencial entender por que os decretos foram justamente contra estas três mitsvot em específico.

4) O milagre do jarro de óleo, à primeira vista, não era um milagre inevitável, pois D’us poderia ter feito simplesmente com que eles encontrassem óleo puro suficiente para durar oito dias. Em geral, D’us evita o feitio de milagres revelados. O fato de D’us ter “forçado” este milagre leva a crer que Ele desejava passar uma “mensagem” ao Povo de Israel, algo ligado ao fato de terem sido salvos do reinado da Grécia. Qual seria a mensagem?

5) Nossos sábios nos contam que o jarro de óleo puro foi encontrado debaixo do Altar. Parece que não foi meramente casual (se fosse, nossos sábios não teriam se dado ao trabalho de mencioná-lo). Ao que tudo indica, isso também faz parte da “mensagem” que mencionamos acima, e precisamos entendê-la.

6) Na Meguilat Antiochus e nos midrashim consta que os gregos abateram um porco sobre o altar. Também consta que Yochanan o Cohen Gadol rendeu-se perante Nicanor (governante de Israel designado por Antiochus) e disse estar pronto a fazer tudo o que ele mandasse. Nicanor, então, ordenou-lhe que abatesse um porco sobre o altar. O que os gregos viam de tão importante neste ato a ponto de Nicanor usar a oportunidade que Yochanan lhe deu para isso?

7) Ainda é trazido lá que, depois de ter sido derrotado por Israel, Antiochus

[5] começou a fugir por todos os países de seu império. A todo local que ele chegava, os habitantes se rebelavam contra ele e o ridicularizavam, chamando-o de “fugitivo”. Flávio Josefo conta o fim de Antiochus: seu corpo exalava um cheiro tão desagradável que ninguém, nem mesmo seus mais fiéis servos, era capaz de se aproximar dele. Por que o castigo de Antiochus foi tão diferente dos demais inimigos de Israel (como Haman, Titus e etc), que geralmente morriam de alguma forma trágica?

8) A Mishná

[6] conta que os gregos quebraram o Templo em 13 lugares, formando 13 brechas na muralha do Templo. Por isso, nossos sábios determinaram que todo aquele que chega ao Templo deve se ajoelhar 13 vezes. O que significa o número 13 e o que está por trás destes atos?

9) Em diversos midrashim consta, que um dos decretos dos gregos era obrigar os judeus a escreverem sobre os chifres dos touros o seguinte: “Não temos parte no D’us de Israel”. Alguns midrashim acrescentam ainda, que tinham que escrever esta frase também sobre as portas. O que os gregos queriam com este decreto tão sem sentido?

*

O pecado na época dos Chashmonaím

Todo decreto feito pelos nossos inimigos materiais, não são um simples acaso. “O coração de um rei está nas mãos de D’us” 

[7]. A idéia de fazer tais decretos é uma intervenção Divina nos pensamentos de nossos inimigos

[8], para servir como um aviso de D’us ao povo de Israel que há algum pecado que devemos consertar (por exemplo, dizem nossos Sábios

[9] que o Segundo Templo foi destruído pelos romanos devido a nosso pecado de ter ódio sem sentido). Portanto precisamos analisar qual foi o pecado do Povo de Israel que desencadeou os decretos dos gregos?

Geralmente se explica que uma parte respeitosa do povo se helenizou e passou a se conduzir como os gregos. No entanto, a partir dos midrashim sobre Chanucá (que foram descobertos há pouco em manuscritos) a impressão é que o movimento helenista começou no Povo de Israel somente depois de os gregos promulgarem decretos duros e difíceis contra a Torá. Assim consta no midrash:

“Veio a perversa Grécia e fez decretos, escureceu os olhos de Israel e disse que todo aquele que mencionar o nome de D’us será perfurado pela espada. Muitos de Israel tornaram-se hereges”.

Assim, ainda é preciso procurar qual é o motivo espiritual que permitiu aos gregos promulgarem decretos.

No “Midrash Maassê Chanucá” consta que o povo não colocava mezuzá em suas portas, não subia ao Templo nas três festas e não dava as contribuições que D’us ordenou dar aos cohanim. No entanto, o midrash dá a entender que estes não eram os pecados principais.

Rabi Yoel Sirkis Z.T.L. (o “Bach”) ilumina o assunto dizendo o seguinte

[10]: “Em Chanucá, o decreto ocorreu principalmente porque foram negligentes (hitrashlú) na avodá (o serviço dos sacrifícios)”. Ou seja: mesmo que o povo de Israel com certeza oferecia todos os sacrifícios conforme D’us ordenou, havia uma hitrashlut” (negligência, indolência) – uma falta de boa vontade e presteza. O Criador foi severo com isso porque o “serviço” no Templo é, conforme consta no Pirkê Avot

[11], um dos três pilares sobre os quais o mundo se mantém: Torá, serviço no Templo e atos de bondade.

Baseado nisso, o Bach escreve que é por este motivo que encontramos na Beraita

[12] que parte dos decretos dos gregos foi a anulação da oferenda do Tamid. Também por isso os gregos impurificaram os óleos de forma que não fosse possível realizar o serviço da Menorá. Uma vez que o povo de Israel foi negligente no serviço do Templo, D’us fez com que não pudesse cumprir a oferenda do Tamid e o acendimento das velas da Menorá, ambos denominados avodá – os serviços do Templo.

À luz das palavras do Bach, é possível explicar também o que diz o midrash (citado acima) que o Povo de Israel não subia ao Templo nas três festas para oferecer os sacrifícios e dar os presentes dos cohanim. Isso também está incluso na negligência.

E as mezuzot? Também fazem parte deste problema. Para entendê-lo, é preciso explicar o que vem a ser o “serviço” – avodá. Embora literalmente avodá significa “trabalho”, na linguagem de nossos sábios esta palavra define um grupo especial de serviços a D’us, que inclui basicamente duas coisas: 1) os sacrifícios no Templo; 2) as orações (sendo que hoje, enquanto não temos o Templo, as orações substituem as oferendas). Por quê os sacrifícios e as orações são considerados a mesma área, ambos chamados de avodá? A explicação é a seguinte: avodá representa a ligação espiritual direta com D’us. As oferendas são uma espécie de “presente” que trazemos a D’us como sinal de afeto, que leva a uma ligação espiritual com D’us. A oração também: trata-se da efusão da alma perante nosso Pai Celestial, tanto com pedidos e súplicas como com louvores e agradecimentos, cheios de afeição. A mezuzá também pode ser inclusa neste grupo, conforme explica o Rambam

[13]: “A pessoa deve ser cuidadosa em cumprir a mitsvá de mezuzá, pois trata-se de uma obrigação constante de todos. Toda vez que a pessoa entrar ou sair, encontrar-se-á com a unicidade de D’us, lembrará de seu amor e despertará de seu torpor e de sua imersão nas coisas vãs, chegando à consciência de que não existe nada que perdure eternamente, a não ser o conhecimento de D’us. Imediatamente, a pessoa retorna à consciência e trilha o caminho correto”.

*

O Objetivo dos Gregos

Uma vez que o ponto de negligência do Povo de Israel foi na avodá – a ligação espiritual com o Criadoro “sinal de alerta” celestial que recebemos foi justamente acusando este ponto: D’us fez com que os decretos dos inimigos fossem justamente contra esta ligação, e que estes inimigos fossem justamente os gregos, como explicaremos:

A concepção dos gregos em relação à religião, não permite a idéia de uma ligação entre D’us e o homem. Os gregos acreditavam em deuses violentos e egoístas, repletos de inveja, ódio e competitividade. Assim, de acordo com a concepção dos gregos, não havia lugar para uma “ligação” com qualquer divindade. Portanto, mesmo que não negassem que houvesse o “D’us de Israel”, não podiam conceber a existência de uma ligação espiritual e amistosa com D’us.

É isso que consta na Meguilat Antiochus, quando Antiochus disse aos seus soldados: “Subamos contra eles e anulemos o pacto que seu D’us fez com eles: Shabat, Rosh Chôdesh e circuncisão”. Ou seja: o ponto em comum entre estas três mitsvot é que cada uma é um pacto entre D’us e Israel, uma ligação com o Criador.

Como?

O berit milá (literalmente: o pacto da circuncisão) é um pacto no qual anunciamos a ligação especial que temos com D’us e fazemos um sinal em nossa carne para mostrar que somos servos de D’us e fiéis ao pacto que firmou com nossos antepassados. O Shabat também é chamado pelo versículo

[14] de berit olam (um “pacto eterno”): é o período semanal no qual abandonamos todas as futilidades deste mundo e dedicamos tempo e pensamento para nos ligarmos a D’us. Rosh Chôdesh, o início do mês, também é o dia de balanço mensal no qual renovamos nossa ligação com o Criador a cada mês. Na época do Templo, cada Rosh Chôdesh era como Rosh Hashaná em nossa geração.

Partindo daí é possível entender o estranho decreto segundo o qual os judeus eram obrigados a escrever sobre os chifres do touro (e, segundo alguns midrashim, também sobre as portas): “Não temos parte no D’us de Israel”. Ou seja, os gregos assumiam que existia o “D’us de Israel”, mas queriam enraizar dentro do povo que não temos “parte”, ligação, com D’us. O decreto foi para escrever justamente no touro, que o povo foi indolente quanto a trazer como oferenda e ligação com D’us, e justamente nas portas, em que não puseram mezuzot que servem para lembrar a unicidade e o amor de D’us.

Da mesma forma, é possível entender o decreto (citado anteriormente) que todo aquele que mencionasse o nome de D’us seria perfurado pela espada. O midrash continua explicando que, com isso, os gregos desejavam evitar que os judeus orassem a D’us. A oração é parte central do conceito de avodá, como citado acima.

Agora também podemos entender por que os gregos faziam tanta questão de sacrificar porcos sobre o altar. Como citado, o principal problema espiritual dos judeus naquela época era a indolência em relação à avodá: traziam oferendas, mas sem vontade e presteza. Faltava algo na “ligação” com D’us no momento do sacrifício. Por isso o Criador colocou no coração dos nossos inimigos a obsessão sem sentido de sacrificar porcos em cima do altar, sendo este um sinal dos Céus a nosso povo: ofereceram um porco – que simboliza o repúdio, o distanciamento e o contrário da vontade Divina – sobre o altar, que simboliza a avodá.

*

O castigo de Antiochus

Agora também podemos entender bem o significado do castigo de Antiochus, que não foi morto como os demais inimigos de Israel; em vez disso, foi errando por todos os países de seu império, sendo desprezado e enxotado de todos eles, além de exalar um cheiro insuportável, de forma que até seus servos mais íntimos se distanciassem dele. Já que Antiochus agiu para romper a ligação entre o rei dos Reis e Seu povo Israel, recebeu o pagamento na mesma moeda: seus súditos desconectaram-se dele. Já os outros inimigos de nosso povo, cujo intuito era nos exterminar, foram exterminados na mesma moeda.

*

Reparação do pecado na era dos Chashmonaím

Como o problema na época de Matityáhu era no plano da avodá – a reparação deveria ser feita pelos cohanim, que são os membros designados para a avodá de todo o Povo de Israel. Embora todos os membros do povo tivessem trabalhado na reparação do problema, dando suas vidas para não se renderem aos decretos dos gregos, a parte principal da reparação foi a dos cohanim, por serem os emissários fundamentais da avodá. Por isso, os cohanim entregaram-se ao perigo ilógico de guerrear contra um exército gigantesco e poderosíssimo do Império Grego com a pura e única intensão de anular os decretos dos gregos e fazer a avodá voltar a ser como antes. Esta dedicação a avodá, é a reparação da negligência que havia. Mais ainda: a própria disposição de partirem para uma guerra na qual não havia sequer uma pequena chance de vencer, só para santificar o Nome de D’us, já é a avodá mais elevada, assim como a akedat Yitschak, quando Yitschak se dispôs de ser uma oferenda a D’us (sendo este o motivo pelo qual Yitschak é considerado por nossos Sábios como sendo o pilar da avodá).

*

O número treze pelo judaísmo: o número da ligação

É possível explicar agora por que os gregos fizeram no Templo 13 brechas: isto fazia parte do ataque do gregos à avodá, sendo seu objetivo era anular nossa ligação com D’us. O número 13 simboliza a ligação, o amor, a união: D’us fez conosco 13 pactos sobre a circuncisão

[15]. Ahavá, amor em hebraico, tem o valor numérico de 13. Treze são os atributos de misericórdia de D’us, que emanam de Seu amor. O valor numérico de echad (um) é 13. A unicidade de D’us traz a ligação conosco, pois D’us e Israel são como um. Os preparativos para o serviço no Templo (avodá, que como citado representa nossa ligação com D’us) também estão ligados ao número 13: havia treze cofres no Templo para se colocar as doações para as oferendas

[16]. Havia 13 mesas no Templo para lavar e colocar as oferendas

[17]. Lembrando que Rosh Chôdesh era um pacto entre D’us e Israel, as oferendas (a avodá) de Rosh Chôdesh eram em número de 13. Aharon Hacohen, símbolo da avodá, recebeu 13 profecias conforme consta em Torat Cohanim

[18]. O trecho da oração chamado de corbanot, que versa sobre o serviço diário no Templo (a avodá), termina com as 13 regras com que a Torá é explicada.

Não é à toa também que os Chashmonaím, de acordo com Rashí, eram um total de 13 homens.

A partir de agora revela-se parte da profundidade do motivo pelo qual nossos sábios instituíram ajoelhar-se 13 vezes, paralelamente às 13 brechas que os gregos abriram no Templo. O ato de ajoelhar-se, assim como a oração, é uma avodá – uma espécie de serviço a D’us que traz a submissão (e então a ligação) – o contrário da “brecha”, que representa uma falta de barreiras, a ousadia.

Os mekubalím (cabalistas) observaram que a bênção “lehadlik nerot chanucá” (acender as velas de Chanucá) e “sheassá nissim” (Que fez milagres) – ambas recitadas antes de acender as velas de Chanucá – têm treze palavras cada uma.

*

A Essência de Chanucá, e os atos dos Macabím

Sabemos que o nome de uma pessoa é a chave para descobrir sua essência e raiz. Da mesma forma, o nome de cada festa representa sua essência. O nome de Chanucá significa Chanucat Hamizbêach, a inauguração do Altar. Daqui vemos que o ponto principal da festa de Chanucá não é a vitória, nem os milagres, nem a anulação dos decretos dos gregos; a essência de Chanucá é a renovação do serviço no Templo, a avodá o serviço da ligação com D’us.

É interessante notar que os chashmonaím, ao lutarem contra os gregos, apelidaram-se usando um nome de louvor a D’us: “Macabím”, acrônimo do versículo: “Mi Camocha Baelim I (início do Tetragrama)”, ou seja: “Quem é como Tu entre os deuses

[19], ó D’us”. Eles compreenderam que a essência daquela guerra deveria ser o louvor a D’us, a oração, o que é chamado por nossos sábios: avodá shebalevo serviço do coração. Parece que eles escolheram o nome a dedo, desafiando o erro dos gregos, que abominavam o fato de que pode existir uma ligação entre o ser humano e D’us. Nosso D’us é diferente dos deuses violentos e invejosos que eles veneravam: “Quem é como Tu entre os deuses, ó D’us”.

Agora também podemos entender qual foi a teoria dos cohanim ao decidirem assumir o reinado em vez da tribo de Yehudá e a dinastia de David. Conforme explicamos, havia uma falha geral no Povo de Israel referente a avodá. Por isso, os cohanim pensaram que era preciso, naquele momento, fazer o pilar da avodá – que é a força dos cohanim – assumir o poder. Unindo a força do reinado à força dos cohanim, conseguiram trazer uma inspiração de avodá para todo o Povo de Israel

[20].

*

O milagre do azeite que durou oito dias

Já é possível entender qual era a mensagem do milagre do jarro de óleo no meio da guerra: dentro das regras da natureza, era impossível retomar o serviço de acendimento da Menorá por setes dias, até conseguirem mais óleo puro. D’us fez um milagre para permitir aos judeus o cumprimento deste serviço (acender a Menorá é considerado pela lei como sendo avodá, exatamente como os sacrifícios no Templo). Isso é um sinal de que D’us que agora já está feliz com a avodá do nosso povo. Assim como, de início, Ele os impediu de exercer a avodá devido ao desprezo que demonstraram para com a mesma, agora, que eles arriscaram suas vidas pela avodá, D’us mostra a todos que lhes apóia a realizar a avodá no Templo até mesmo contra as leis da natureza.

O milagre ocorreu justamente com a menorá, que é a avodá especial de Aharon Hacohen. Nossos Sábios contam

[21], que Aharon Hacohen recebeu esta missão como recompensa por ter demonstrado seu forte anseio por realizar alguma avodá a D’us, depois que os chefes de cada tribo ofereceram seus sacrifícios na inauguração do Mishcan (santuário móvel no deserto). Esta avodá da Menorá, é um acréscimo às doze oferendas dos chefes das tribos, sendo que a Menorá é a décima terceira (numero representativo, como citado).

O jarro de óleo foi encontrado justamente debaixo do Altar onde se faziam os sacrifícios, pois o altar é símbolo da avodá, como sinal de que a “mensagem” Divina inclui os sacrifícios e todos os tipos de avodá.

*

Chanucá e os patriarcas

Podemos compreender mais um detalhe: quando nosso patriarca Yitschak abençoou nosso patriarca Yaacov, fez uma série de alusões à guerra dos chashmonaím contra os gregos, conforme é explicado na introdução do livro Tsevi Latsadik

[22]. A partir do que explicamos, é possível entender por que justamente Yitschak fez questão de orar por Chanucá: a virtude especial de Avraham era a bondade. A virtude especial de Yaacov era a Torá. Já a virtude de Yitschak, que foi amarrado sobre o Altar para santificar o Nome de D’us, é a avodá. Portanto, foi ele que legou aos seus descendentes a força espiritual necessária para a era dos Chashmonaím.

Chanucá sempre coincide com uma das duas parashiot que contam sobre a vida de Yossef Hatsadik. Qual será o motivo? Porque toda a vida de Yossef foi uma complementação da avodá de Yitschak. O Arizal escreve em alguns lugares

[23] que Yossef era a reencarnação de Yischak. Yossef era ben zekunim (o filho da velhice – caçula) de Yaacov. O valor numérico de zekunim (segundo o conceito de guimatraiá im-hacolel) dá o valor numérico de Yitschak. O Gaon de Vilna

[24] escreve que Yossef tinha o nível de Yitschak.

*

Nosso Serviço Hoje

Finalizando, agora entendemos por que a mitsvá principal de Chanucá é “agradecer e louvar”. Como citamos acima, a oração é a avodá no exilio, que substitui os sacrifícios. Isso está explícito no Bach que trouxemos anteriormente: depois de explicar que o decreto dos gregos veio devido à negligência na avodá e a reparação deste erro foi terem dado a vida pela avodá, ele escreve: “Por isso só fixaram Chanucá para agradecer – pois este é o ‘serviço do coração’ (avodá shebalev)”.

De fato, o midrash também explica que nosso agradecimento ao longo dos oito dias de Chanucá é um ato contrário aos decretos dos gregos. À luz de tudo o que foi dito há muito mais profundidade nisto do que parece, conforme diz o midrash:

“Disse D’us… vocês (os gregos) disseram que aquele que menciona o Meu nome será perfurado pela espada? Eu determino que seja recitado o Halel em Meu nome ao longo dos oito dias de Chanucá…”.

Ou seja os gregos tentaram acabar com a avodá, e justamente por isso, a mitsvá especial destes dias é acrescentar na avodá.

Obviamente, o acendimento das velas de Chanucá, que lembram a Menorá no Templo, também é como uma avodá. E mais: escreve um dos Rishoním, o Riaz Z.L.

[25], que a mitsvá da vela de Chanucá faz parte do louvor e do agradecimento.

Pela lei, o acendimento das velas de Chanucá é feito (preferivelmente) em frente à mezuzá, justamente para lembrar o amor a D’us e fortificar a ligação com Ele, como citamos acima a explicação do Rambam sobre o que representa a mezuzá.

 

1


[1] em Orach Chayim 670.

[2]  Bereshit 49:1.

[3]  Como mencionamos no texto do Al Hanissim, que os macabím eram tsadikim.

[4] No livro Derashot Haran, derush 7, o Ran escreve sobre isso e conclui que eles não eram reis e sim emissários do rei da Pérsia. De qualquer forma, de acordo com  a linha do  Ramban, eles de fato eram reis e é preciso entender o que eles pensaram.

[5]  O Imperador grego conhecido pelos historiadores com o nome de Antíocu IV Epifânio.

[6] Midot 2:3.

[7]  Mishle 21:1.

[8] Fato este que não livra os nossos inimigos de serem merecedores de punição Divina por seus atos cruéis, pois eles tinham o livre arbítrio de não se levarem por estes pensamentos. Este é um conceito importante, pois devemos saber que o anti-semitismo é resultado direto de nosso nível espiritual, sem que isto justifique, em momento nenhum, os atos impróprios dos anti-semitas. No diálogo de D’us com Avraham Avinu, D’us o avisou (Bereshit 15:13,14): Saiba que seus descendentes serão peregrinos em uma terra alheia, e serão escravizados e oprimidos por 400 anos; e também o povo que os oprimirá será castigado por Mim. Ou seja mesmo que a escravidão no Egito era um decreto Divino (devido a alguns pecados de Avraham e de nosso povo como explicado por nossos Sábios), os egípcios foram punidos com as dez pragas, pois os egípcios tinham o livre arbítrio de não serem o povo através do qual o decreto Divino se tornou realidade.

[9]  Tratado de Yomá 9b.

[10] Bach em Ôrach Chayim 670.

[11] Perek 1 mishna 2.

[12] Assim como nos midrashim recentemente descobertos.

[13] Hilchot Mezuzá 13.

[14] Shemot 31:16.

[15] Berachot 49a e outros lugares.

[16] Yomá 55b.

[17] Tamid 31b.

[18] Início do cap. 2.

[19] Esta expressão obviamente não significa que existem outros deuses, chas veshalom.

[20] Vide Sifrê, parashat Devarim, par. 7.

[21]  Bamidbar Rabá 15:6.

[22] Nesta introdução, ele traz uma série de alusões a esta guerra no trecho da Torá que relata a bênção de Yitschak. Por exemplo: “Vayárach et rêach begadav”. Begadav – suas roupas – tem o valor numérico de 25 (a data de Chanucá). “Vayavê lo yáyin, vayigash lo, vayishak lo”  – Lo tem o valor numérico de 36, o número de velas que acendemos ao todo nos oito dias de Chanucá (à exceção do Shamash). “Mital Hashamáyim” – Hashamáyim tem o mesmo valor numérico de shêmen, óleo. O valor numérico de “Reê reach beni” é o mesmo que “lehadlik ner Chanucá”. O valor numérico de “Mital Hashamáyim umishmanê haárets” é o mesmo que “Bimê Matityáhu ben Yochanan Cohen Gadol”. E ele se estende mais ainda.

[23] Sháar Haguilgulim he, kuf, lamed bet, Sháar Hapessukim, parashat Lech Lechá.

[24] Em seu comentário sobre o Zôhar, parashat Pinechás, daf 242b, e em seu comentário sobre o Tikunê Hazôhar Hechadash 52a.

[25]  Em seu comentário sobre o Tratado de Shabat 21b.

 

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