Lag Baômer

 

 

 

 

 

Capítulo 10

Lag Baômer:

O Significado do Dia

 

 

 Escutaram uma voz celestial dizendo: Juntem-se e venham para a festa do Rabí Shimôn

 

(Zôhar, Idrá Zutá)

 

Para podemos compreender a essência do dia de Lag Baômer (o trigésimo trinta dia na contagem do Ômer) – dia este que é denominado “a festa de Rabí Shimôn” – devemos tentar entender um pouco o que representa o grande Sábio Rabí Shimôn Bar Yochai de abençoado memoria. Para isto, analisemos primeiramente a passagem da Guemará no Tradado de Shabat 33b, que conta sobre o evento que levou Rabí Shimôn a ter que fugir, e que relata sobre sua fuga e estadia na caverna, até a saída da mesma, e assim consta lá:

Rabí Yehudá, Rabí Yossi e Rabí Shimôn sentaram-se. Yehudá ben Guerím sentou-se atrás deles. Rabí Yehudá começou, dizendo: “Como são belos os atos desta nação! [dos romanos[1]]. Construíram feiras, pontes e casas de banho”. Rabí Yossi permaneceu em silêncio. Rabí Shimôn Bar Yochai respondeu: “Tudo o que construíram foi para seu próprio bem; fizeram feiras – para instalar mulheres indecentes; casas de banho – para requintar a si mesmos; pontes – para cobrar pedágio”. Yehudá ben Guerím foi e contou o que ouviu [para os alunos ou para seus pais, sem intenção de que o governo romano ficasse sabendo, mas este acabou ouvindo1] e as palavras chegaram até o governo. [O governo] decretou: [Rabí] Yehudá, que nos louvou, será elevado [será o primeiro a opinar em todos as ocasiões1]; [Rabí] Yossi, que permaneceu em silêncio, será exilado para Tsipori [cidade na Galileia]. [Rabí] Shimôn, que condenou, será morto.

Rabi Shimôn e seu filho esconderam-se dentro da casa de estudos e sua esposa lhes trazia comida todo dia. Quando o decreto ficou mais severo, Rabí Shimôn disse ao seu filho: ‘As mulheres são mais fáceis de convencer. Se a torturarem, ela pode acabar revelando onde estamos’. Foram embora e esconderam-se numa caverna. Aconteceu um milagre e criou-se para eles uma alfarrobeira e uma fonte de água. Tiraram suas roupas [para que não se estraguem por excesso de uso no decorrer dos anos], cobriam-se de areia até o pescoço e assim estudavam o dia todo. Na hora de rezar, vestiam suas roupas [por honra a D’us perante o qual estão orando]. Permaneceram doze anos na caverna. [O profeta] Eliyáhu veio até a entrada da caverna e disse: “Quem avisará a Bar Yochai que o César morreu e seus decretos foram anulados?”

Rabi Shimôn e seu filho saíram da caverna e viram pessoas arando e semeando. Rabí Shimôn disse: “Eles deixam a vida eterna e se ocupam da vida passageira?” Todo local em que observavam queimava imediatamente. Saiu uma voz celestial e disse: “Vocês saíram para destruir Meu mundo? Retornem à sua caverna!” Voltaram e ficaram mais doze meses. Disseram [consigo mesmos]: o julgamento dos perversos no Guehinám (inferno) dura doze meses. Saiu uma voz celestial e disse: “Saiam de sua caverna”. Saíram. Todo local que Rabí Elazar queimava, Rabí Shimôn consertava…

(Tratado de Shabat 33b)

Tentemos descobrir a profundidade do que se esconde por trás desta história e, a partir daí, entender o significado do dia santo e elevado – Lag Baômer.

O trecho da Guemará que trouxemos acima explica as diferenças entre a abordagem de Rabí Yehudá e a de Rabí Shimôn em relação aos romanos. A priori, as palavras de Rabí Yehudá bar Ilai são surpreendentes. Será que ele não sabia que os romanos não fizeram obras em Israel para beneficiar o povo judeu mas sim por interesses próprios? Além disso, no Tratado de Avodá Zará 20a está escrito que é proibido elogiar as obras de um idólatra, pois está escrito na Torá: “Lo techonem – não lhes dê graça”. Acima de tudo: o que Rabí Yehudá tinha em mente quando interrompeu seu estudo de Torá e fez seus colegas interromperem seus estudos para conversar sobre os romanos? Este ponto fica ainda mais curioso se percebemos que de acordo com a linguagem da guemará“Rabi Yehudá, Rabí Yossi e Rabí Shimôn sentaram-se” – percebe-se que esta não foi uma conversa casual, mas uma reunião séria em que todos se sentaram com o intuito de conversar sobre aquilo. Por que?

Outro ponto incompreensível nesta história é onde está a justiça Divina: Rabí Yehudá, que parece ter feito algo contrário a vontade de D’us, mereceu grandeza e honra, enquanto Rabí Shimôn, que foi sincero, teve que se esconder numa caverna escura por doze anos.

O Chidá[2] traz as palavras do Arizal, segundo as quais a alma do grande Rav Yossef Karo, autor do Shulchan Aruch, vinha da raiz da alma de Rabí Yehudá bar Ilai. Comenta o Chidá, que é por isto que ocorre que todo aquele que deseja esclarecer alguma lei, lê primeiramente o Shulchan Aruch, e somente depois consulta o Remá, o Maguen Avraham, o Taz, o Shach e os demais sábios de Israel, uma vez que Rav Yossef Karo é da alma de Rabí Yehudá bar Ilai que é “o primeiro a opinar em todos as ocasiões”.

Daqui vemos que o fato de Rabí Yehudá bar Ilai ter recebido a honra de ser o primeiro a opinar não se trata de uma realidade casual e sem significado que depende somente do decreto romano; trata-se de algo essencial que está ligado à alma de Rabí Yehudá. Tanto, que até mesmo em outras reencarnações ele mereceu ser o “primeiro a opinar”. Em outras palavras, D’us usou os romanos para desencadearem a realidade de que Rabí Yehudá fosse sempre o primeiro a dar sua opinião. Qual o significado disso tudo? Que diferença faz quem opina primeiro? E por que justamente Rabí Yehudá bar Ilai precisava ser o primeiro?

Existe uma diferença essencial, poder-se-ia dizer até extrema, entre Rabí Yehudá bar Ilai e Rabí Shimôn bar Yochai, sendo que o mundo precisa de ambos:

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Rabi Shimôn Bar Yochai

Rabi Shimôn Bar Yochai enfatizava a excepcionalidade e a elevação espiritual individual, principalmente de pessoas especiais[3], de forma que suas opiniões nem sempre eram adequadas a qualquer um. De fato, embora fosse um grande sábio e estivesse muito ativo na parte “revelada” da Torá, sua principal singularidade se expressa nas camadas mais internas da Torá – o sagrado Zôhar. Assim, sua principal finalidade era na área da verdade interna de pessoas seletas[4] e não a verdade simples que é adequada a todos.

É conhecida a divergência entre Rabí Shimôn e Rabí Yishmael no Tratado de Berachot 35b:

“A Torá diz ‘Você colherá seu grão’ e em outro lugar diz ‘Que este livro de Torá não deixe sua boca’ [ou seja, é preciso estudar o tempo todo]. Será que é para entender este último versículo de forma literal? Vem a Torá e diz: ‘Você colherá seu grão’, ou seja: deve fazer como todos seres humanos e trabalhar também. Assim diz Rabí Yishmael. [Esta também é a opinião de Rabí Yehudá bar Ilai em Avot Derabi Natan[5]]. Rabí Shimôn ben Yochai diz: se o homem for arar na hora da aragem, semear na época da semeadura, ceifar na época da ceifa, trilhar os grãos na hora da trilha e separá-los da palha na hora dos ventos, o que será da Torá? Mas quando o Povo de Israel faz a vontade de D’us, seu trabalho é realizado por outros…”

O Nefesh Hachayim escreve (e suas palavras foram trazidas como lei pelo Beur Halachá) que ambas as linhas são corretas, Elu velu divre Elokim Chaim” (“Estas e também estas são as palavras do D’us vivo”[6]). A diferença entre as duas é que a linha de Rabí Yishmael (e de Rabí Yehudá bar Ilai, em Avot Derabi Natan) é adequada ao público em geral, enquanto a linha de Rabí Shimôn bar Yochai (que exige, na verdade, uma conduta sobrenatural) é adequada a um grupo mais limitado que estuda Torá com todas as suas forças (Vide observação importante aqui:[7]).

O Nefesh Hachayim explica que é isso que Abayê diz na continuação daquele trecho: “Disse Abayê: ‘Muitos se conduziram conforme Rabí Yishmael e tiveram sucesso; conforme Rabí Shimôn ben Yochai e não tiveram sucesso”. Ou seja: justamente porque “muitos” fizeram como Rabí Shimôn, não deu certo, uma vez que a conduta de Rabí Shimôn é para uma minoria e não para muitos[8].

 

 

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Rabi Yehudá bar Ilai

Até aqui vemos a força de Rabí Shimôn. Em contrapartida, Rabí Yehudá bar Ilai era o homem do povo, ligado ao público. Assim também ele orientava seus alunos, a terem esta ligação entre todos, conforme consta em Sanhedrin 20a: “Foi dito sobre Rabí Yehudá bar Ilai que seis alunos se cobriam com um só talit e se ocupavam com a Torá”. Como um homem do povo, ele sabia tecer um caminho que fosse adequado a todo o povo e não somente a algumas pessoas seletas, conforme vimos anteriormente que ele opina como Rabí Yishmael.

É por isso que aprendemos[9]: “Disse Rabí Abá em nome de Rabí Yochanan: sempre que há uma divergência entre Rabí Yehudá e Rabí Shimôn, a lei é como Rabí Yehudá”. Ou seja já que ele tem a opinião direcionada para a maioria do povo, a halachá (a lei judaica) é sempre fixada como ele. De fato, em sua reencarnação, ele escreveu o Shulchan Aruch, a principal autoridade haláchica do Povo Santo.

Assim, a força e a singularidade de Rabí Yehudá encontram-se na “verdade” que emana do nível que pertence a todo o Povo de Israel. É por isso que quase não encontramos Rabí Yehudá quando se trata da Torá oculta. Em sua reencarnação como Rav Yossef Karo, deu-se o mesmo: no livro Shivchei Haarizal[10] consta que, quando Rav Yossef Karo se empenhava em vir estudar com o Arizal, acabava adormecendo, até que o Arizal lhe revelou que, de acordo com a raiz de sua alma, o estudo da Cabalá não se adequava a ele (isto não quer dizer que ele não fosse capaz, mas sim que este não era seu papel no mundo).

[Obviamente que tudo isso é relativo: todas as palavras de Rabí Yehudá bar Ilai estavam ajustadas de acordo com todos os segredos da Torá, mas não no nível de Rabí Shimôn. Da mesma forma, sua reencarnação, o Rav Yossef Karo, também estudava a parte oculta da Torá, conforme fica claro em seu livro Maguid Mesharim, mesmo assim, não chegava aos níveis em que estava seu contemporâneo: o Arizal, que por sua vez era a reencarnação de Rabí Shimôn bar Yochai como escreve Rabi Chaim Palaji[11]].

No Tratado de Guitin[12], o Sábio chamado Issi ben Yehudá descreve louvores sobre determinados Sábios, sendo que seu louvor sobre Rabí Yehudá Bar Ilai parece um pouco esquisito:

“Issi ben Yehudá descrevia os louvores dos sábios: Rabí Meir – sábio e escriba. Rabí Yehudá – sábio quando quer…”

Mesmo depois de ler as explicações de Rashí e dos Tossafot, fica difícil entender este elogio, que mais parece uma crítica. Parece que, geralmente, Rabí Yehudá não quer ser sábio. A partir do que vimos acima é possível entender: como a Torá de Rabí Yehudá é a Torá do povo, ele mostrava o caminho no nível adequado a todo o povo, como se ele não fosse sábio, nem estivesse num nível superior. Issi ben Yehudá o louva justamente por isso: Rabí Yehudá tem a possibilidade de entrar até o fundo do Pardês[13], se quiser, mas ele não quer devido à sua dedicação ao povo. Assim, o fato de “não querer” ser um “sábio” é parte de seu louvor.

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A conversa de Rabí Shimôn e Rabí Yehudá

Depois destas explicações, podemos tentar compreender mais o que aconteceu de fato quando Rabí Yehudá louvou os atos dos romanos e Rabí Shimôn os condenou, assim como todas as consequências de sua conversa.

Em primeiro lugar, traremos o que o Gaon de Vilna escreve sobre este trecho da Guemará de Shabat:

“Com certeza é proibido dizer ‘como é belo’ sobre um idólatra. Rabí Yehudá queria dizer que era melhor viver sob poder dos romanos que outra nação, conforme disse acima (Shabat 11a)…”

Explicando: os sábios de Israel estão sempre tentando observar os caminhos de D’us e Sua providência e discernir qual é a essência da era e do exílio em que se encontram, qual é a natureza do povo em que foram exilados. Desta maneira, conseguem captar quais são as forças negativas que influenciam o Povo de Israel e quais são as formas de enfrentá-las. Foi para esclarecer esta importante questão que Rabí Yehudá, Rabí Yossi e Rabí Shimôn se reuniram. Rabí Yehudá objetou que o motivo pelo qual D’us escolheu (nesta instancia) exilar o Povo de Israel justamente entre os romanos (“Edom”) e não em outros povos é pois, aos menos, a cultura deste povo (ou seja a cultura ocidental) tem valores corretos quanto à preservação do mundo e uma vida material bem organizada: preocupa-se com as necessidades do povo, provendo-lhe ruas, pontes e assim por diante. Como este povo tem valores humanos até certo ponto (dentro dos limites de seu modo de enxergar o mundo, naquilo que eles acham importante, ou seja: as necessidades do corpo), sua influência negativa sobre o Povo de Israel é menos prejudicial do que seria se estivessem exilados entre outros tipos de povos e demais nações, uma vez que os reinados das demais nações só se preocupam consigo mesmos e não têm o valor moral de cuidar do benefício da humanidade. Rabí Shimôn, em contrapartida, respondeu que não achava assim, o motivo para D’us ter feito o exilio com o povo romano, deve ser outro, e não a diferença de influência. De fato, os atos dos romanos podem parecer positivos e morais, mas suas intenções não são e, portanto, sua influência sobre Israel é negativa e prejudicial.

Parece claro que, na prática, não há controvérsia entre Rabí Yehudá e Rabí Shimôn e não há discussão quanto à força de influência de Roma. Rabí Yehudá certamente conhecia muito bem as motivações internas desta nação. Por outro lado, Rabí Shimôn com certeza concordaria que, se os atos dos romanos são bons ao menos externamente, sua má influência é a menos prejudicial em relação às demais nações. No entanto, como Rabí Yehudá enfatizava a parte mais revelada, reconheceu mais as vantagens do reinado de Edom, que ao menos externamente demonstrava ter alguns valores morais. Por isso, via a bondade de D’us no fato de estarem naquele exílio e não em outro (conforme o Gaon de Vilna explica).

Já Rabí Shimôn, que enfatizava principalmente o íntimo das coisas, desprezou o lado externo e não achava que havia grande vantagem em terem sido exilados justamente entre os romanos e não qualquer outro povo. Embora D’us com certeza tenha bons motivos para exilar-nos justamente entre este povo, na opinião de Rabí Shimon o motivo não é o que apontou Rabí Yehudá.

[Seguindo este raciocínio, que Rabí Shimon olhava principalmente a parte interna das pessoas e não dava valor demais ao exterior, pode ser possível explicar a famosa frase de Rabí Shimôn bar Yochai: “Eu poderia livrar o mundo todo da justiça” [14]. Acaso D’us abre mão da justiça para que Rabí Shimôn consiga realizar esta façanha? Para Rabí Shimôn, tudo o que não é essencial e interno torna-se diminuto e sem importância. Por isso, mesmo que o Povo de Israel tenha cometido pecados, estes nada mais são que atos externos que não combinam com a essência interna e verdadeira da alma deste povo, como explicamos no capítulo 5].

A partir de agora podemos compreender o desenrolar dos fatos que se seguiram às declarações de Rabí Yehudá e Rabí Shimôn:

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A reação à conversa de Rabí Yehudá e Rabí Shimôn

Rabi Yehudá provou saber dar ênfase ao lado mais literal das coisas. Por isso, D’us fez com que fosse condecorado como “o primeiro a opinar em todos as ocasiões”. Afinal, sempre que nos dispomos a averiguar qualquer assunto, é preciso ouvir primeiro o nível mais claro e simples e somente depois dirigir-se a níveis mais profundos. Por isso, ele mereceu, em sua reencarnação, escrever o Shulchan Aruch, o livro que é a base de todo o cumprimento da Torá e das mitsvot. Somente depois de ler o Shulchan Aruch é possível acrescentar e estudar os detalhes das leis trazidos pelos comentaristas. O mesmo se dá no plano do cumprimento das mitsvot: somente depois de cumprir tudo o que está escrito no Shulchan Aruch é possível adotar rigores e adornos adicionais e até mesmo condutas de acordo com a parte oculta da Torá.

Já Rabí Shimôn era ligado aos níveis ocultos e internos, que são a força da excepcionalidade. Por isso, D’us fez com que merecesse isolar-se com seu filho numa caverna por treze anos, totalmente separado do resto do mundo, e lá ocupar-se dos segredos da Torá e elevar-se muito mais do que conseguiu antes[15]. Rabí Shimôn aprofundou-se tanto na conduta da “excepcionalidade” que, quando saiu da caverna com seu filho pela primeira vez, não conseguiu acatar a idéia que a maioria do povo de Israel precisasse trabalhar para o seu sustento. Como citado anteriormente, a Guemará conta: “Viram homens arando e semeando e disseram: ‘Estes deixam de lado a vida eterna e se ocupam da vida momentânea!’ Todo lugar que olhavam queimava imediatamente”. A conduta de Torá de Rabí Shimôn e seu caminho no serviço a D’us condizem somente com algumas pessoas especiais e não com a maioria. Isto ficou mais acentuado depois de ter se isolado por tanto tempo.

É interessante notar que Rabí Yehudá, que enfatiza o lado revelado, foi recompensado com um bem revelado: tornou-se o primeiro a opinar em todo lugar. Já Rabí Shimôn, que enfatiza o lado oculto, foi elevado de forma oculta, como se D’us estivesse escondendo Sua bondade. O bem que ele recebeu não dá para ser reconhecido à primeira vista, pois ter que fugir para uma caverna não parece, à olhos comuns, uma recompensa muito grande. Mas foi justamente esta conduta Divina que aumentou a força espiritual de Rabí Shimôn.

Baseados no que foi dito até aqui, poderemos nos adiantar para analisar o significado do dia de Lag Baômer.

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A Essência de Lag Baômer

Varias são as explicações sobre o porquê da alegria de Lag Baômer. A explicação mais famosa, é segundo a qual este é o dia no qual faleceu Rabí Shimon[16]. Esta colocação necessita de explicação, pois consta na lei[17] que dias de falecimento de Justos, são dias quando deve-se jejuar, ou seja contrário de alegria, então qual é a diferença entre Rabí Shimon e os demais justos?

Segundo todo o explicado acima, a diferença fica clara: Rabí Shimôn é o sábio que dá ênfase ao significado interna e para ele tudo que é superficial é diminuto e sem importância. Portanto, para ele, um dia quando o justo terminou sua missão neste mundo com sucesso, e pode voltar a sua proximidade ao Criador (devolvendo sua alma à Ele), é um dia de plena alegria. O que nós temos que ficar tristes pelo falecimento dos sábios, até mesmo a ponto de jejuar, é porque temos a obrigação se honrar a Torá segundo o que fica parecendo aos olhos humanos, como se ficou faltando no mundo algo que deveria estar aqui. Mas no caso do dia do falecimento do Rabí Shimôn, em honra a sua Torá devemos nos comportar segundo o sua forma de olhar, que é enxergar da forma mais interior, sendo que enxergando desta foram saberemos que ele terminou sua missão neste mundo e não tem mais motivo para permanecer conosco, sendo então este um dia um dia de grande alegria pela elevação dele. 

Outra explicação sobre o por quê da alegria em Lag Baômer, é por este dia ser propício à revelação de segredos da Torá. De fato, foi neste dia que Rabí Shimôn revelou ao Povo de Israel inúmeros segredos que, até lá, não lhe fora permitido revelar. De acordo com o que explicamos, o significado disto é muito amplo: como vimos, a força de Rabí Shimôn é a “excepcionalidade”, o serviço a D’us em níveis muito profundos que só são adequados para alguns poucos e não ao Povo de Israel como um todo. Lag Baômer é o dia em que são dadas a permissão e a força para ligar-se à excepcionalidade. Mesmo aqueles que ainda não pertencem aos “poucos especiais” também podem fazer parte deles neste dia e este é o motivo da alegria.

Por isso, os judeus costumam juntar-se neste dia em volta de uma fogueira (costume antigo) pois, neste dia, todos podem pertencer ao nível de Rabí Shimôn e aquecer-se ao calor de seu grande fogo. A fogueira representa a alma de Rabí Shimôn. Não é à toa que se acendem fogueiras em vez de velas: Rabí Shimôn representa a excepcionalidade, o poder espiritual que não existe nos outros. A fogueira mostra que esta alma não é como as outras, mas tem um poder espiritual muito maior[18].

 

 

 

1


[1] De acordo com a explicação de Rashí.

[2] Em seu livro Shem Haguedolim, Maarechet Sefarim, verbete “Tur Ubet Yossef”.

[3] “Vi pessoas elevadas e são poucas” – conforme Rabí Shimôn bar Yochai atesta no Tratado de Sucá 45b.

[4] Conforme está escrito: “Sod Hashem Liyreav” – o segredo de D’us é para aqueles que O temem.

[5] Nuschá 1 cap. 28, de acordo com o exemplo que ele traz lá.

[6] Tratado de Eruvin 13b e outros lugares. Esta frase significa que quando encontramos uma divergência entre os Sábios, se nos aprofundarmos vamos descobrir que ambos estão corretos.

[7] Aqui é importante notar que a orientação dos mestres de nossa geração é a seguinte: hoje, quando infelizmente a maior parte de nosso povo nem mesmo cumpre Torá e mitsvot (não seguem shabat, taharat hamishpachá, etc), todo aquele que pode se ocupar com a Torá dia e noite deve fazê-lo, para assim contrabalançar o estado espiritual do nosso povo. Mesmo que o número de avrechim aumente cada vez mais, estes ainda serão considerados minoria em relação a todo o Povo de Israel.

[8] De fato, no Tratado de Shabat 11a consta: “Aprendemos: sábios que estão ocupados estudando não precisam parar para rezar. Disse Rabí Yochanan: ‘Isso só se aplica a pessoas como Rabí Shimôn ben Yochai e seus colegas, cuja Torá é sua profissão. Mas pessoas como nós devem parar…’” Está claro que de fato existia um grupo de sábios de Torá, colegas de Rabí Shimôn, que se ocupavam somente da Torá, a tal ponto que estavam isentos de rezar.

[9] No Tratado de Eruvin 46b.

[10] Edição de Vasróvia, pág. 27.

[11]  Col Hachayim 7,2.

No que diz respeito as reencarnações citadas, é interessante notar que: Rabí Yossef ben Efraim (o Rav Karo) tem as mesma iniciais de Rabí Yehudá ben Ilai (pois Ilai em hebraico se escreve com Alef, como Efraim), enquanto que Rabí Yitschak ben Shelomô (que é o nome do Arizal) tem as mesma iniciais de Rabí Shimon ben Yochai.

[12]  37a.

[13] Pardês é o acrônimo de Peshat, Remez, Derash e Sod – quatro níveis de profundidade do estudo da Torá.

[14]  Tratado de Sucá 45b.

[15] Conforme escrito na continuação da guemará, quando Rabí Shimôn disse a Rabí Pinchas: “Bem aventurado é você por ter-me visto assim”, etc.

[16]  Vide Caf Hachaim siman 493, saif kayan 26.

[17] Shulchan Aruch Orach Chaim Siman 580.

[18] Assim, é compreensível por que não acendemos fogueiras pelos outros Tanaim, mesmo que eles também estavam em níveis altíssimos. Não acendemos fogueira nem mesmo por Rabí Akiva, que era o mestre de Rabí Shimôn. Isso, porque este simbolismo pertence somente a Rabí Shimôn, que é o mestre da excepcionalidade. Assim, justamente em relação a ele há necessidade de algo excepcional na vela.

 

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