Os Quatro Elementos – Parte 1
Capítulo 14
A Raiz dos Quatro Reinados
“A terra era sem forma e vazia, com escuridão sobre a face das profundezas, e o espírito de D’us se movia sobre a superfície da água”
(Bereshit 1:2)
Sobre este versículo expliacam nossos Sábios no Midrash (Bereshit Raba 2:4) o seguinte:
“Resh Lakish explicou este versículo em relação aos reinados: “A terra era sem forma” – trata-se do reinado de Bavel (Babilônia)… “E vazia” – trata-se do reinado de Madai (Média, reinado este chamado também de Paras Umadai ou seja Pérsia e Media pois estes dois reinados se uniram)… “Com escuridão” – trata-se do reinado de Yavan (Grécia)… “Sobre a face das profundezas” – trata-se do reinado cruel (Edom – os povos Europeus)”… “E o espírito de D’us se movia sobre a superfície da água” – trata-se do espírito de Mashiach”.
A partir das palavras do midrash, fica claro que o conceito dos quatro reinados já estava latente desde a criação do mundo. De fato, ainda antes de tudo acontecer na prática, Nevuchadnetsar, rei da Babilônia, sonhou com os quatro reinados[1]. O próprio profeta Daniyel (cap. 7) também os viu em profecia, na forma de animais.
A questão que surge é a seguinte: nossos sábios dizem[2] que o Primeiro Templo foi destruído (e o povo exilado à Babilônia) como reação aos pecados de idolatria, assassinato e relações proibidas. Já o Segundo Templo foi destruído – e nós, levados ao longo exílio de Edom, até hoje – devido ao ódio sem motivo. Sendo assim, como pode ser que Daniyel já profetizou estes exílios antes do Povo de Israel ter pecado? Afinal, o Povo tinha o livre arbítrio e poderia não ter pecado (sendo que então não haveria exilio) [3]. Mais ainda: como é possível que, desde a criação do mundo, existisse esse decreto, ainda antes de surgir a realidade do pecado?
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Os Quatro Elementos
Analisemos a raiz da essência dos quatro reinados.
Do ponto de vista espiritual (pela Kabalá – como mencionado no Zohar Hakadosh[4]) toda matéria física é formada pela composição de quatro forças denominadas arbaá yessodot (“os quatro elementos básicos”), que são chamados alegoricamente: “fogo”, “água”, “pó da terra” [5] e “ar”. Estas quatro forças compõem a realidade material (em sua base espiritual), conforme escreve o Rambam (Hilchot Yessodê Hatorá, início do cap. 4): “Estes quatro corpos – fogo, ar, água e terra – são a base de todas as criaturas abaixo do céu”. No entanto, embora estes quatro componentes constituem o mundo material, são extremamente representativos no plano metafísico, tanto na parte da pureza[6] quanto na parte contrária a pureza[7].
O Gaon Rav Moshe Cordovero zt”l[8] escreve que cada um dos quatro reinados é paralelo a um dos quatro elementos que formam o mundo material: a Babilônia é paralela ao fogo, a Pérsia e a Média são paralelas à água, a Grécia é paralela ao ar e, por último, Edôm é paralela à terra.
O livro Megalê Amucôt[9] cita alusões nos versículos e nas palavras de nossos Sábios para esse fato, escrevendo o seguinte:
“Os quatro reinados são paralelos aos quatro elementos: fogo, água, ar e terra. O fogo é o exílio da Babilônia, quando jogaram Chananyá, Mishael e Azaryá ao fogo[10]. A água é a Média, conforme escrito (Meguilat Ester 4): ‘Mordechai atravessou’. O Talmud explica: ‘Atravessou um canal de água’ (Meguilá 15). O midrash Bamidbar Rabá traz que os persas diziam: ‘Amanhã te asfixiarei’ – trata-se de morte por água[11]. O ar é a Grécia, conforme consta[12]: quando Alexandre Magno, o imperador grego, veio guerrear contra Israel, chegou de navio em apenas cinco dias, muito veloz, pois ‘o vento o trouxe’[13]. A terra é Edom, conforme consta em Daniyel 7: ‘Ele (o quarto reinado) consumiu toda a terra’. No Salmo 44 está escrito: ‘Pois nossa alma foi curvada até a terra… levanta-Te e nos ajuda!’. O midrash Shochar Tov explica: ‘Se você vê um reinado que é comparado ao pó da terra, espere pela salvação’”.
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As Características dos Quatro Elementos
Se analisarmos as características especiais de cada um dos quatro elementos, veremos que se amoldam perfeitamente às características de cada um dos reinados.
O Arizal[14] descreve as forças características de cada um dos quatro elementos:
“Saiba que todas as más virtudes estão enraizadas em quatro níveis da alma básica do lado do mal e da kelipá[15] que existem dentro dela. Por isso, todas as más virtudes podem ser divididas em quatro categorias: do fogo emanam o orgulho e a altivez, pois o fogo é o elemento mais leve e mais alto de todos. Inclui a raiva pois, devido ao orgulho, a pessoa fica enraivecida quando não fazem o que deseja. […] Do ar emanam a fala vã, conversas que não têm necessidade alguma – tanto espiritual como materialmente. […] Da água emana o desejo por prazeres, assim como a água faz crescer toda sorte de prazeres […] Da terra emana a tristeza em todos os seus detalhes. A tristeza tem como conseqüência a preguiça para cumprir a Torá e as mitsvot. A tristeza [vem] pela tentativa de conseguir as propriedades vãs deste mundo ou devido aos sofrimentos pelos quais uma pessoa passa, sendo que ela não fica feliz com seu quinhão em nada. Sua cobiça por riqueza não tem fim”.
A descrição do Arizal sobre a tristeza [que vem “pela tentativa de conseguir as propriedades vãs” etc] lembra bem as expressões modernas que ouvimos bastante: “sensação de vazio”, “falta de sentido na vida”. Assim como o pó da terra, que não tem valor e não serve para nada. A falta de objetivo Verdadeiro é o motivo da tristeza e da depressão. Aqueles que perseguem as futilidades deste mundo acabam percebendo (pelo menos “por dentro” percebem), em determinado estágio, que tudo é vão e que consumiram seus dias sem um objetivo de conteúdo. A perseguição da fortuna é a maior expressão da falta de objetivo: Afinal, mesmo os desejos mais baixos são uma espécie de objetivo, enquanto o dinheiro não passa de um meio para conseguir outras coisas; transformar um meio em objetivo é ilusão e o contrário da Verdade. Além disso, nossos Sábios[16] dizem que “aquele que tem cem almeja duzentos, tem duzentos quer quatrocentos…” sendo portanto que o “objetivo” de conseguir riqueza monetária é a realidade mais remota de uma vida com um objetivo.
Resumindo os conceitos citados, a força negativa dos quatro elementos contidos na Criação é a fonte espiritual de maus instintos do ser humano (que podem e devem ser controlados através do livre arbítrio), da seguinte forma:
1. Fogo: orgulho, raiva.
2. Água: desejo de prazeres.
3. Ar: a fala em vão.
4. Terra: A “sensação de vazio”, falta de sentido na vida, o que inclui a busca da riqueza.
Depois de estudarmos a explicação do Arizal para os quatro elementos, podemos perceber a comparação exata às características dos quatro reinados:
Babilônia: nossos sábios disseram[17]: “Dez kabin (medida) de orgulho desceram ao mundo e nove tomou a Babilônia”. Este reinado foi comparado ao leão no sonho profético de Daniyel (cap. 2). Em Shir Hashirim Raba 3:19, nossos sábios dizem: “O animal mais orgulhoso é o leão”. Sobre o próprio Nevuchadnetsar, rei da Babilônia, foi dito: “Como um leão que deixou seu covil” (Yirmiyáhu 4:7)[18]. Não foi à toa que Nevuchadnetsar mandou erguer uma grande estátua de ouro representando-o e obrigou todos os povos a se ajoelharem perante ela. Da mesma forma, o midrash diz sobre o general Nevuzaradan, a mão direita de Nevuchadnetsar: “Nevuzaradan é Aryoch. Por que seu nome é Aryoch? Pois rosnava sobre os prisioneiros qual um leão (Aryê)”[19].
Além disso, no capítulo 2 de Daniyel é descrita a raiva de Nevuchadnetsar como algo incontrolável e além de qualquer compreensão: ele pediu a um grupo de sábios que adivinhassem o que sonhou (pois não lembrava mais o que tinha sonhado, somente lembrava que era algo importante) e que interpretassem o significado do sonho. Quando não foram capazes de fazê-lo, “o rei ficou encolerizado e enraivecido e mandou matar todos os sábios da Babilônia”. O Malbim explica que o rei pretendia matar todos os sábios, mesmo os que não tivessem ligação com a interpretação de sonhos: sábios de engenharia, estadistas, e assim por diante. Tratava-se de uma raiva sem motivo, que transformaria a Babilônia numa terra de ignorantes, causando um prejuízo irreversível para seu próprio reinado.
Pérsia e Média: sua essência era a perseguição dos prazeres corporais. No sonho profético de Daniyel, a Pérsia e a Média são comparadas ao urso. Nossos sábios[20] explicam a semelhança ao urso: “Estes são os persas: comem e bebem como ursos e são sobrecarregados de carne como o urso”. Em Meguilat Ester também fica patente o quanto se ocupavam de banquetes e festas, enquanto nossos sábios descrevem suas conversas[21]: “Uns dizem ‘as medas são as mais belas’, enquanto outros dizem ‘as persas são as mais belas’”. No midrash Ester Raba 5:3 consta: “‘Mulheres em Tsiyon violentaram’ – o que ele quer ensinar? Assim disse D’us (à Pérsia): vocês são ávidos pela libertinagem”. O Maharal explica que nosso exílio dentro do povo de Yishmael (que ocorrerá enquanto ainda existe o exílio dentro de Edom) é uma continuação do exílio da Pérsia. Nossos sábios dizem[22]: “Dez kabin (medida) de imoralidade desceram ao mundo. Nove pegou a Arábia…” Embora suas esposas andem com recato, isto infelizmente não espelha o “interior” do povo. O Rambam[23] escreve que os árabes são inundados de depravação e, de acordo com a percepção errônea de sua religião, seu “mundo vindouro” nada mais é que comer, beber e ter inúmeras esposas, de forma que até sua religião está impregnada de desejos baixos. Rabí Tsadok Hacohen Milublin escreve[24]: “A kelipá[25] de Yishmael são os desejos negativos”.
Grécia – a fala é o que caracteriza a espécie humana como algo que se eleva além da animalidade física. No entanto, enquanto a eminência do ser humano não é aproveitada para a santidade e seu dom de fala é usado para coisas vãs, permanece na área da impureza e não passa para a santidade. Esta é a essência do reinado da Grécia, especializado em sabedoria, filosofia e estética que não eram usadas para a santidade. É como o elemento ar, que parece o mais espiritual de todos, mas ainda é material. Não é à toa que se pensou a priori na guemará[26] que foi proibido o estudo da língua grega, pois a final, a “fala” desta nação é sua kelipá especial, que simboliza uma ilusão de espiritualidade dentro da impureza. Por isso, justamente os gregos promulgaram decretos contra a Torá e não contra nosso corpo (diferente dos demais povos opressores), pois o que mais incomoda aos gregos era a Torá, já que a verdadeira espiritualidade revela a mentira da espiritualidade falsa. No capítulo 15 (o capítulo seguinte) explicamos mais o assunto, bem como explicaremos por que a Grécia, no sonho profético de Daniyel, é justamente um leopardo, símbolo da ousadia.
Edom – O Midrash[27] explica que o nome de Essav (o patriarca do povo de Edom) significa “Assui Shav” – existência sem propósito, sem objetivo. Afirma também o Midrash[28], que a característica de Essav é correr atrás da riqueza. Assim também o povo de Edom, diz a Guemará[29], se forem resumir o que fizeram “de bom” em suas vidas, vão dizer “Harbê kessef vezham hirbinu” – juntamos muito dinheiro. Ou seja, trata-se da cultura ocidental que conhecemos tão bem hoje em dia[30], em que a perseguição ao dinheiro é o centro da vida, vigorando a grande falta de valores e falta de objetivo na vida, o “vazio” [31]. Como resultado deste vazio, grande parte da humanidade sofre de tristeza, depressão e falta de satisfação na vida.
Agora é possível entender por que, no sonho profético de Daniyel, este reinado adquire a forma de um animal indefinido – “Diferente de todos os animais” (Daniyel 7:7). A essência deste reinado é não ter essência nem objetivo. As pessoas não se encontram e não há direcionamento. É interessante notar que mesmo a religião do reinado de Edom é vazia. De acordo com ela, o ser humano (se não resolveu ser sacerdote) não tem nenhuma obrigação além de não roubar e não matar. Sendo assim, um ateu vive exatamente igual a um cristão, sem nenhuma diferença de comportamento entre eles. Até mesmo o deus dos cristãos é um “messias” que não salvou nem mudou nada – totalmente desprovido de conteúdo.
Quão profundas são as palavras do Maharal[32] sobre Edom:
“Tudo isso porque a “ausência” liga-se ao quarto reinado, uma vez que este é o fim dos reinados”.
Ou seja: o reinado de Edom é o final da Era deste Mundo presente (a Era antes de Mashiach), Mundo este chamado pelos nossos Sábios de “o Mundo da mentira” (quando a Verdade está oculta). Já que se aproxima o fim desta Era (e a Verdade esta por se revelar), o materialismo, o orgulho, o desejo e a sabedoria sem objetivo começam a perder seu brilho. Os seres humanos começam a perceber que o materialismo não tem substância nenhuma, diferentemente do que achavam nos reinados anteriores. A mentira começa a revelar-se como mentira, porem por outro lado a verdade ainda não apareceu. Por isso, no reinado de Edom, o mundo permanece sem objetivo – tanto material, pois tudo é fútil, e tanto espiritual, porque a verdade ainda não foi revelada – restando somente a “ausência”, conforme a linguagem do Maharal, ou o “vazio”, na linguagem moderna.
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Os Quatro Reinados e os Quatro Metais
No sonho de Nevuchadnetsar sobre os quatro reinados[33], cada reinado foi comparado a um metal específico: a Babilônia ao ouro, a Pérsia e a Média à prata, a Grécia ao cobre e Edom ao ferro. Parece que essas comparações têm muito significado:
Ouro: no livro de Daniyel (cap. 2) está explicado por que a Babilônia foi comparada ao ouro: este é o metal mais precioso e é o símbolo do orgulho.
Prata: kêssef, em hebraico. Vem da palavra kissuf, desejo muito forte. Assim, a prata simboliza os desejos. O Maharal[34] explica um pouco diferente: uma vez que a prata é um pouco inferior ao ouro, simboliza o rei Achashverosh (do reinado Persa), porque “desejava preencher sua alma com o desejo do corpo”.
Cobre: explicaremos adiante no capítulo 15 (capitulo que trata sobre o Império Grego e sua ligação ao elemento do ar).
Ferro: é um metal que não é considerado valioso e simboliza o vazio e a falta de valores.
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Quatro peças no “puzzle” da História Mundial
À luz de tudo o que vimos até agora, chegamos à conclusão de que os quatro reinados são quatro forças. Quando não dirigidas da forma correta, são expressas pelos quatro tipos de pecado citados pelo Arizal.
Estas forças sempre existem no mundo, pois afinal toda a criação é baseada nestas quatro forças (como citado acima em nome do Rambam), mas em cada reinado, uma destas forças é mais enfatizada. E assim escreve o Malbim[35]: “Os quatro reinados sempre existem, mas cada vez será predominante um deles”.
Por isso, é muito compreensível que, quando Nevuchadnetsar sonhou com os quatro reinados, viu-os na forma de uma estátua, cada um compondo uma das partes do corpo e todos juntos formando algo inteiro. Se faltasse um reinado, faltaria parte do corpo, pois, como vimos, o mundo físico é uma junção destas quatro forças. Por isso, justamente os quatro reinados juntos criam algo inteiro – que é o total da força material.
Assim, o orgulho, os desejos e demais forças negativas de todos os quatro elementos, sempre coexistem, só que cada época tem uma ênfase diferente, depende qual reinado é o predominante.
Tendo em vista estes conceitos, podemos entender melhor o papel dos quatro reinados dentro da Historia, em relação ao povo de Israel. O povo judeu tem a função de se elevar e também elevar espiritualmente este mundo material, para assim trazer o mundo ao nível do Mundo Vindouro que é o mundo pós-messiânico. Já que este mundo material é constituído por quatro elementos, é necessário se elevar contra todos os quatro tipos de forças negativas destes quatro elementos.
Este conceito foi escrito em poucas palavras pelo Sefat Emet[36], que diz o seguinte:
“Por isso há quatro exílios, pois a alma precisa ser redimida dos quatro elementos do corpo físico”.
O próprio fato do povo de Israel estar em contato (durante o decorrer da Historia) com os quatro reinados citados, sem se influenciar pelas quatro más forças destes povos, é que causa a elevação acima dos padrões dos quatro elementos. Por exemplo, D’us fez com que Parás fosse o reinado predominante durante determinado período na História, para que neste período haja uma ênfase à busca de prazeres (elemento da água) – isto era um “teste” para o povo judeu, que ao não serem influenciados por esta cultura, elevaram o elemento da água, elevando assim a realidade material ao plano espiritual, aproximando o mundo à meta final. Este é um exemplo, e o mesmo se aplica aos demais três reinados. Ao passarmos por todos os quatro reinados (quatro períodos na Historia – sendo cada período o “teste” de um dos quatro elementos), completamos a função de elevar o Mundo (e a nós mesmos) e então já se torna possível passar para a próxima etapa que é a Era Messiânica.
Porém o que aconteceria se, em vez do povo de Israel “passar no teste”, pecasse em uma destas quatro forças, por exemplo pecasse no que diz respeito ao elemento do fogo? Neste caso, para reparar isto e chegar a elevação mundial, já não bastaria meramente existir o reinado Babilônico, mas sim seria necessário que o povo de Israel fosse subjugado por este reinado (o que chamamos: exílio) e aí então passar pelo teste.
A partir de agora podemos responder à pergunta que fizemos no início: como Daniyel sonhou com os quatro exílios ainda antes do Povo de Israel pecar e merecer o exílio? A resposta é que Daniyel de fato não sonhou com os quatro exílios, mas com os quatro reinados. Ele profetizou que cada uma das quatro forças materiais teria um momento na história em que predominaria. A História poderia ter terminado com isto, sem necessidade dos reinados se transformarem em exílios. Mas pelo fato do Povo de Israel ter pecado nestes quatro planos respectivos (como explicaremos a seguir), ocorreram os quatro exílios respectivos às quatro forças negativas nas quais pecaram.
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Os quatro pecados
De fato, nossos sábios observam que a destruição do Primeiro Templo foi devido aos pecados de idolatria, relações proibidas e derramamento de sangue. O exílio passou praticamente ininterruptamente por três reinados: Babilônia, Pérsia e Grécia[37]. À luz do que dissemos é muito compreensível: devido a estes três pecados, o povo precisava passar por estes três exílios: 1. A Babilônia era paralela ao derramamento de sangue (raiva; e também o orgulho de se achar mais importante que o próximo a ponto de se sentir no direito de tirar-lhe a vida). 2. A Pérsia e a Média eram paralelas às relações proibidas (desejos). 3. A Grécia por sua vez era paralela à idolatria (“espiritualidade” inválida).
Depois, o povo de Israel pecou com ódio sem motivo e então foi decretado o quarto exílio, uma vez que o ódio gratuito é o “auge” da sensação de vazio: É sabido que aquele que nutre sentimentos negativos pelos outros, sem motivo justificável, deve-o aos sentimentos de frustração íntima. Trata-se de uma pessoa que não tem satisfação da vida e não sabe apontar o motivo (“vazio” literal), e sua frustração explode na forma de ódio pelos outros sem um motivo satisfatório.
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Os Quatro Exílios e a Reparação dos Quatro Elementos
Ao analisarmos a história, perceberemos que em cada um dos quatro exílios, o povo de Israel reparou o “elemento” que pertencia àquele reinado. Desta forma, expiaram o que estragaram naquele aspecto.
Babilônia: o exílio da Babilônia não foi uma simples “transferência” do Povo de Israel para fora de sua terra. Nossos sábios explicam que foi um processo de humilhação do orgulho judaico. Nos midrashim, nossos sábios se estendem descrevendo a terrível humilhação: Nevuchadetsar fez questão de exilá-los nus e acorrentados. Ao longo de todo o caminho, Nevuzaradan (o general) berrava com eles. Tratava-se de humilhação por humilhação. Ao chegarem à Babilônia, Nevuchadnetsar lhes tirou todos os filhos inteligentes e bem-sucedidos, deixando-os sem futuro glorioso.
O exílio da Babilônia tirou de Israel toda a sensação de poder, conforme disseram nossos sábios[38] sobre este exílio: “Ao serem exilados, sua força enfraqueceu como se fossem uma mulher. Por isso está escrito: ‘Yehudá foi exilada’”.
Pérsia e Média: os membros do Povo de Israel foram testados para não tirarem proveito da refeição daquele perverso (Achashverosh), ou seja: o teste era não se ligar à cultura de desejos dos persas. Quando não passaram no teste, D’us, em Sua infinita sabedoria, usou o método de um decreto ameaçador em vez de admoestações de profetas. Assim, D’us fez com que o perverso Haman levasse o Povo de Israel a perscrutar seus atos. De fato, Ester imediatamente ordenou aos judeus[39] “Jejuem por mim, não comam e não bebam por três dias, dia e noite. Eu e minhas amas faremos o mesmo”. Um jejum de três dias consecutivos é quase acima das forças humanas. Além disso, este jejum incluiria a noite do Sêder, pois compreenderam que a necessidade do momento era evitar totalmente a comida e a bebida, dando suas vidas por isso e fazendo teshuvá completa[40]. A partir daqui é compreensível por que, ainda hoje, fazemos o jejum de Ester, embora o decreto já tenha sido anulado e estes serem dias de alegria. O motivo é que o serviço a D’us dos dias de Purim é o domínio sobre os desejos. Por isso, também, fazemos uma teshuvat hamishkal – uma teshuvá exatamente contrária ao pecado – realizando um banquete somente pelo Nome de D’us[41]. Da mesma forma, nossos sábios instituíram mishloach manot (envio de porções de comida) e presentes para os pobres que são ambos a utilização da comida sem ser para o próprio proveito. No capítulo 16 nos estendemos mais neste assunto.
Grécia – o reinado da Grécia fez decretos para “fazê-los esquecer de Sua Torá” (como cita-se na reza de Al Hanissim). A Torá é diametralmente oposta às palavras vãs e à falsa sabedoria do elemento ar. Os gregos não pouparam esforços para fazer os judeus se helenizarem, ligarem-se à cultura inválida do ar. Foi contra essa impureza que os chashmonaim lutaram, dando suas vidas. Tudo isso está mais detalhado no capítulo 15.
Edom: infelizmente ainda não fomos redimidos, de forma que ainda não conseguimos chegar à reparação completa da força do vazio de Edom. Ainda não tivemos o mérito de “leakamá shechintá meafrá” (erguer a presença Divina do pó da terra”), ou seja: a revelação Divina ainda está oculta devido à impureza. Porem, mesmo que a reparação ainda não ocorreu, nossos sábios no Tratado de Sotá[42] já nos revelaram de antemão como se dará a reparação: “..Os tementes do pecado serão desprezados (pelo povo), a verdade estará ausente, os jovens humilharão os velhos, os velhos terão que se levantar perante os pequenos, o filho desprezará o pai, a filha se rebelará contra a mãe, a nora contra a sogra, etc…” Ou seja, o vazio será cada vez maior até chegar ao auge – o mundo perderá todos os valores e toda a orientação. Os tementes do pecado – os únicos que conhecem o objetivo da vida – serão desprezados. Os jovens humilharão os velhos, o filho desprezará o pai e a filha rebelar-se-á contra a mãe – trata-se da falta dos valores mais simples que era conhecidos e aceitos por todos os povos desde sempre. Todos os demais detalhes que aparecem no trecho citado (vide acima no final do capitulo 13) seguem o mesmo princípio: o desmoronamento dos valores. Justamente devido ao vazio total, os filhos de Israel perceberão e sentirão que a cultura ocidental faliu e que este não é o caminho. Precisamente devido ao imenso vazio, procurarão uma vida de conteúdo e desejarão ligar-se a seu Pai Celestial com todas as forças. Este é o movimento de teshuvá (isto é, o retorno ao judaísmo praticante) tão forte que vemos em nossos dias, e esta é a explicação literal das palavras do Rambam[43]:
“Todos os profetas ordenaram fazer teshuvá. O Povo de Israel só será redimido com teshuvá. A Torá prometeu que o Povo de Israel acabará fazendo teshuvá no final de seu exílio, de forma que será redimido imediatamente, como foi dito: ‘Quando você estiver aflito e todas estas coisas tiverem lhe acontecido, você finalmente retornará a D’us e O obedecerá’”.
Nossos sábios[44] também dizem que, se o movimento de teshuvá não tiver dimensões suficientes, será preciso colocar sobre o povo um rei cujos decretos são duros como Haman (a alusão a Haman talvez indique que seja da Pérsia – atual Irã). Algo como (D’us nos livre) aparecer nas notícias que bombas atômicas estão a caminho de Israel, faltando poucos minutos, “e haverá um momento de aperto que nunca houve desde o aparecimento deste povo até aquele momento” (Daniyel 12:1). Neste instante, seu coração compreenderá que a perseguição da fortuna, a vida vazia e as brigas com outros foram totalmente fúteis. De repente, a questão do sentido da vida aparecerá perante todos, sabendo que restam somente alguns minutos de vida. Neste momento, todos se sacudirão de toda a impureza do elemento terra e gritarão a D’us, pois só podemos nos apoiar em D’us. Naquele dia, será tocado o Grande Shofar para nos redimir e, por milagre, serão salvos todos aqueles que tiverem retornado a D’us[45]. Sobre este dia nossos sábios disseram[46]: “Enquanto eles estiverem difamados pelas cinzas (palavra em hebraico que é quase equivalente a “pó da terra”), não se levantam. Quando chegar o dia em que está escrito ‘Sacuda-se do pó da terra, levante-se do chão e sente-se, ó Jerusalém’, naquele momento, ‘Silencie toda carne perante D’us’”. Que possamos em breve nos sacudir do pó da terra sem precisarmos dos decretos de um rei duro como Haman, que assim seja, amen.
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O Fim dos Quatro Exílios
Descobriremos mais um detalhe maravilhoso se prestarmos atenção ao motivo do término de cada um dos quatro exílios: cada um deles anulou-se justamente devido à sua própria força especial. Esta é a natureza de toda força material: a matéria é uma ilusão, devido ao “segredo do tsimtsum”[47]. A mentira não perdura[48]. Sendo assim, justamente o poder da matéria é o que anula aquela matéria. Detalhemos:
O Término do Exílio de Bavel: o exílio da Babilônia terminou com o assassinato de Belshatsar, rei de Bavel e filho de Nevuchadnetsar. Seu reinado foi passado a Daryavesh (Dario) I, o meda, dando início ao exílio de Parás e Madai. No livro de Daniyel (cap. 5) consta que o motivo Celestial para o assassinato de Belshatsar foi por este ter se orgulhado demais. Ele pegou os utensílios do Templo de Jerusalém, que estavam respeitosamente guardados nos tesouros de seu pai, e usou-os para sua festa, considerando-se maior do que o Rei dos Reis. Por isso, D’us decretou que ele perderia seu reinado. De fato, na mesma noite, ele foi assassinado e seu reinado passou para o rei da Média.
É interessante notar como isso responde a uma forte pergunta: alguns anos depois, o Rei persa Achashverosh também usou os utensílios do Templo em seu banquete, sem que ele perdesse o reinado por causa disso. O motivo é que a força de Bavel é o fogo, o orgulho. O fim do reinado do fogo precisa dar-se justamente com a força do fogo. O mesmo não se dá em relação ao reinado de Parás, cuja força é a água. O ato de orgulho de Achashverosh não era motivo para terminar seu reinado, pois se tratava de orgulho individual e de uma besteira que não representava a essência interna e central de seu povo.
O Término do Exílio de Parás: ocorreu quando Daryavesh (Dario) II ordenou que os judeus construíssem o Templo e subissem para Israel. Por que este rei persa foi tão gentil? Nossos sábios nos revelam[49]: “Disse Rabí Yehudá filho de Rabí Simon: o último Daryavesh, filho de Ester, era puro por sua mãe e impuro por seu pai”. Ou seja, Daryavesh II era judeu, filho da Rainha Ester com o perverso Achashverosh. O final do exílio de Parás, portanto, ocorreu devido ao desejo de Achashverosh. [O mesmo se deu individualmente: o fim de Haman ocorreu porque o rei suspeitava que ele desejava a rainha. Da mesma, forma, o fim de Vashti deu-se devido ao desejo visual.]
O Término do Exílio de Yavan: a força da Grécia é o ar, que significa elevação material que pode ser confundida falsamente com espiritualidade. Por isso, os gregos lutaram contra a verdadeira espiritualidade, contra a verdadeira sabedoria. Eles desejavam fazer-nos esquecer a Torá Divina e escureceram nossos olhos com seus decretos contra a fé. Justamente devido a esta conduta, os chashmonaim se revoltaram contra eles e restituíram o reinado a Israel. Aqui também vemos como a força especial de Yavan – o elemento ar – é o que trouxe o fim do exílio.
O Término do Exílio de Edom: ainda não merecemos ver seu fim. De qualquer forma já mencionamos que, de acordo com nossos sábios, justamente com o fortalecimento da força do vazio (elemento terra) até o máximo, o Povo de Israel perceberá que precisa de uma vida de maior conteúdo. Mesmo se for preciso de um rei “cujos decretos são duros como os de Haman”, isso só ocorrerá devido aos pecados do Povo de Israel – que vêm da falta de sentido na vida.
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O Lado da Santidade dos Quatro Elementos
Para terminar, é preciso salientar que todas as quatro forças têm um paralelo no lado da santidade, pois D’us sempre cria forças equilibradas. É isso que dizem nossos sábios no Pirkê Avot: “Seja ousado como o leopardo, leve como a águia, ágil como o veado e forte como o leão para fazer a vontade de seu Pai Celestial”.
Detalhando:
“Ousado como o leopardo”: já mencionamos que o reinado de Yavan (Grécia) foi comparado ao leopardo no sonho profético de Daniyel. No capítulo 15 nos estendemos e provamos como a virtude da ousadia emana do elemento ar. Portanto, a ousadia para cumprir a vontade Divina é o contrário deste aspecto.
“Leve como a águia” – leveza significa a capacidade de realizar boas mudanças sem dificuldade. No lado impuro, isso se expressa na falta de estabilidade positiva, ou seja: falta de valores e princípios, o que é chamado, em hebraico, de kalut rosh – literalmente “leveza da cabeça”. Em outras palavras: o elemento terra, conforme já explicamos. De fato, no profeta Yechezkel (1:10) o reinado de Edom é comparado à águia. Este era o símbolo de Roma e hoje é o símbolo dos EUA, líder do reinado de Edom do final dos tempos.
“Ágil como o veado” – trata-se da agilidade para coisas santas. Pela Cabalá há uma ligação direta entre a agilidade e os desejos de prazeres (ambos são ligados com o conceito de chimum), ou seja o lado impuro da agilidade é o despertar dos desejos, que é o elemento água. Por isso, no exílio da Pérsia, havia rapidez para fazer as coisas negativas: mandaram emissários rápidos com as cartas de extermínio do Povo Judeu em “um só dia” – diferentemente dos demais reinados, cujos decretos contra Israel eram mais brandos e se estendiam por mais tempo. Rashí[50] escreve que Parás e Madai são chamados, no versículo, de “zarzir motnáyim” (uma ave veloz), por serem ágeis. No midrash Rabá, com o qual iniciamos este capítulo, consta: “E vazia” – Vavôhu – trata-se do reinado de Madai (Média), [pois esta palavra lembra a palavra] “Vayavhilu” – mandaram chamar Haman rapidamente (Ester 6). Assim, a essência da Pérsia e da Média é a rapidez e a agilidade (que pode ser usada para o bem o para o mal). Já mencionamos o Maharal, segundo o qual Yishmael é a nova versão do exílio de Parás e Madai. De fato, Yishmael era um arqueiro, e nossos Sábios (Tratado de Nidá 43a) denotam a “flecha” como uma sinônimo de rapidez. Ele também sabia usar estas forças para o lado da santidade, como está escrito: “Avraham correu até o gado e escolheu um bezerro tenro. Ele o deu ao jovem, que se apressou em prepará-lo” (Bereshit 18:7). Nossos sábios dizem que o jovem era Yishmael[51]. Hoje, os filhos de Yishmael são a única nação que se prontifica a usar livremente armas nucleares, para matar e exterminar “num só dia”, D’us nos livre.
“Forte como o leão” – esta é a força e o heroísmo da santidade, cujo contrário é o orgulho e a raiva. Conforme vimos acima, a Babilônia foi comparada ao leão. De acordo com a Cabalá, “fogo” é “guevurá” – “força”.
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Que seja a vontade do Criador, que terminemos rapidamente o reparo de todos os quatro elementos, assim trazendo o mundo a dias melhores e mais elevados – a redenção final, amên sela!
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[1] Conforme trazido em Daniyel, cap. 4.
[2] Yomá 9b.
[3] Esta pergunta não depende do que o Rambam escreve em Hilchot Teshuvá 5:5. Lá, ele discute se o conhecimento Divino contradiz a liberdade de escolha do ser humano ou não. O Rambam explica que a existência de D’us é acima da dimensão do tempo e, por isso, Seu conhecimento não vem “antes” da escolha, pois este se encontra além do tempo. Não é o caso de nossa pergunta: Nevuchadnetsar e Daniyel, como residentes deste mundo e limitados ao tempo, receberam informação sobre o que ocorreria no futuro, embora os acontecimentos dependessem da livre escolha de Israel.
[4] Zohar Sitre Torá Vol. 1, Lech Lecha 80A. E em vários locais.
[5] A seguir, por praticidade, chamaremos este elemento de “terra”.
[6] Zohar Chadash Vol. 2 Meguilat Rut pag. 41B.
[7] Vide Zohar Sitre Torá citado acima.
[8] Or Yakar, Vayigash, sháar 10, siman 5.
[9] Parashat Bamidbar 33:4.
[10] Podemos acrescentar: Nossos sábios (midrash Tanchumá, parashat Ki Tetsê, ot guimel) se expressam em relação ao término do exílio da Babilônia da seguinte forma: “Salvou-os do fogo”.
[11] É interessante notar que Parás e Madai (Pérsia e Média) são um só reinado dividido em dois, diferentemente dos demais reinados que são uma só unidade: Bavel, Yavan, Edom. Da mesma forma, em hebraico, o único elemento que vem como plural é a água – máyim. Além disso, o Maharal (em seu livro Ner Mitsvá e em outros lugares) escreve que o reinado de Yishmael, que despertará no final dos tempos (e já despertou), é uma continuação do reinado de Parás e Madai. De fato, no midrash Ester Rabá 1:17 está escrito: “Parás – por que se chama assim? Porque recebeu o reinado em perussot – fatias: uma nos tempos de Tirdá, uma nos tempos de Adrachian e uma no futuro…”. Yishmael também matou Israel por intermédio da água, conforme consta em Shemot Rabá (27 alef) que eles enganaram os judeus, dando-lhes odres cheios de ar para matá-los de sede. O Arizal também escreve no Ets Hadáat Tov que o versículo “Quando homens contra nós se levantarem” (Salmo 124) refere-se a Yishmael, que é um homem selvagem. A continuação do salmo, “ondas violentas nos teriam afogado”, mostra como o ataque deste “homem selvagem” é comparado a uma enchente de água. Mesmo hoje, como é sabido, o lema de Yishmael é “Vamos jogar os judeus ao mar”.
[12] Em Sucá 51b.
[13] É adequado também citar as palavras do Rav Chêssed Leavraham (maayan dalet, nahar hê), que escreveu que o elemento ar fica na esfera de “Tif’eret” (beleza). De fato, o reinado de Yavan é descendente de Yefet, que é amante da beleza e da estética.
[14] Shaarê Kedushá, Vol. I, sháar 2.
[15] Kelipá (literalmente: casca) é um conceito Cabalístico que define forças negativas (espirituais) específicas.
[16] Kohelet Rabá 1, 13.
[17] Kidushin 49b.
[18] Conforme nossos sábios dizem em Meguilá 11a.
[19] Eichá Rabá 5:6.
[20] Meguilá 11a.
[21] Meguilá 12b.
[22] Kidushin 49b.
[23] Hilchot Teshuvá 8:6.
[24] Em seu livro Peri Tsadik, sobre Parashat Zachor.
[25] Kelipá (literalmente: casca) é um conceito Cabalístico que define forças negativas (espirituais) específicas.
[26] Sotá 49a, Báva Káma 83a.
[27] Bereshit Rabá 63, 8.
[28] Bereshit Rabá no fim do cap. 31.
[29] Avodá Zará 2B.
[30] E atestam os historiadores, que o estilo da cultura ocidental de hoje, o modo de viver e de encarar a vida, os direitos legislativos e os conceitos sociais, são todos derivados diretamente da cultura romana desde o período do Império Romano.
[31] É verdade que agora também há orgulho, raiva, desejo de prazeres e sabedoria sem objetivo, porque no final das contas sempre há um pouco dos quatro elementos. Mesmo assim, a ênfase é principalmente na cultura do vazio. Além disso, consta em nossos livros sagrados que, no final dos tempos, quando o poder do mal sumir da face da terra, o lado da impureza usará todas as suas forças, de todas as formas possíveis, para vencer. Mostramos como isso aparece também no sonho profético de Daniyel sobre o último reinado, mas aqui não é o lugar para nos estendermos.
[32] Ner Mitsvá (parte 1).
[33] Daniyel 2.
[34] Em seu livro Ner Mitsvá, Vol. I.
[35] Sobre Daniyel 7:2.
[36] Parashat Vaerá 664.
[37] Mesmo que, no final do reinado da Pérsia, os judeus tiveram o mérito de construir o Segundo Templo, não foi uma redenção total, pois, no final das contas, estavam subjugados aos persas (o rei de Israel era nomeado pelos persas). Afinal, o principal ponto que caracteriza o estado de exílio não é a falta do Templo mas sim a subjugação a outras nações, conforme explicado no Tratado de Berachot 34b: “A única diferença entre este mundo e os dias de Mashiach é a subjugação aos reinados”. Por isto, a Grécia foi considerada como “exílio” mesmo que o Templo não foi destruído e mesmo que não saíram da terra de Israel. Somente no final do reinado da Grécia, quando os chashmonaim se rebelaram, o povo de Israel conseguiu retirar de si o jugo dos reinados por algumas dezenas de anos.
Em suma, os exílios se dividiram em dois. O primeiro grupo: Babilônia, Pérsia e Grécia. E depois: Edom. De fato, nos sonhos de Daniyel, os exílios foram divididos em dois: Os três primeiros em uma noite e Edom na segunda noite.
[38] Echá Rabá 1:29.
[39] Ester 4:16.
[40] Rav Yossef Karo, em seu livro Maguid Meisharim (parashat Vayakhel), escreve o que lhe revelou o “maguid” (um anjo que estudava com ele) sobre o significado do jejum de três dias que Ester decretou: “Trata-se de 72 horas para digerir a sujeira recebida pela Assembléia de Israel por ter tido proveito da refeição daquele perverso”.
[41] Teshuvat hamishkal significa fazer exatamente o contrário do pecado cometido. Por exemplo: quem roubou deve dar dinheiro para os pobres. Da mesma forma, fazer um banquete somente pela mitsvá é o contrário do banquete de pecado que fizeram com Achashverosh.
[42] 49b.
[43] Leis de Teshuvá 7.
[44] San’hedrin 97b.
[45] Veja o Malbim e outros comentaristas sobre Daniyel 12:1 “Et Tsará”.
[46] Bamidbar Rabá 75:1.
[47] Tsimtsum (ao pé da letra: “limitação”) é um conceito cabalístico, muito profundo e difícil de compreender corretamente, mas tentaremos defini-lo dentro de nossas possibilidades: devido ao fato de D’us ter uma potência de “existência” infinitamente grandiosa, teoricamente não seria possível a existência de nada que não fosse Ele próprio, pois qualquer coisa criada (mesmo criada por D’us) seria tão infinitamente ínfima a Ele, que se anularia perante Sua existência. O tsimtsum significa que D`us Se ocultou (como se tivesse Se limitado) de forma que esta anulação não aconteça na prática, o que então possibilitou a criação do mundo, pelo menos em um plano ilusório.
[48] Tratado de Shabat 104A.
[49] Vayikrá Rabá, Shemini 13.
[50] Em Mishlê 30:31.
[51] Avot Derabi Natan 13:3, Bereshit Rabá 48:14.