Capítulo 15

A Grécia e o elemento do Ar

 

 

Introdução

 

No capítulo anterior (“A Raiz dos Quatro Reinados”), estendemo-nos na explicação das palavras do grande cabalista Rabi Moshe Cordovero zt”l, segundo o qual cada um dos quatro reinados relaciona-se a um dos quatro elementos: Bavel (Babilônia) é a força do fogo, Yavan (Grécia) é a força do ar, Parás e Madai (Pérsia e Média) são a força da água e Edom (Roma e, posteriormente, os países ocidentais) é a força da terra. Explicamos que cada uma destas forças existe sempre, mas em cada época uma delas se torna dominante, dependendo do reinado que predomina no mundo.

O teste do Povo de Israel foi e é funcionar sempre como uma resistência a estas forças. Assim, ao longo da história, o Povo de Israel tem tido o mérito de consertar todos os quatro elementos para finalmente poder chegar à reparação total deste mundo e trazer a redenção.

Neste capítulo, nos ateremos mais à essência do reinado de Yavan (Grécia) e sua ligação ao elemento do “ar”. Desta forma, poderemos entender melhor o que ocorreu em Chanucá.

 

*

Tentando entender Chanucá

Antes de tudo, traremos alguns pontos desta história que exigem maior compreensão[1]:

1) No tratado de Shabat 21b nossos sábios perguntam: “O que é Chanucá?” Como resposta, descrevem o milagre do jarro de óleo. Esta resposta é surpreendente, pois, afinal, o principal ponto da festa de Chanucá foi a vitória contra os gregos, sendo que toda a observância da Torá e das mitsvot dependia disto; enquanto que o milagre do jarro de óleo não passa de um detalhe (mesmo que muito importante) dos milagres como um todo. De fato, no trecho de Al Hanissim, lembramos somente a vitória sobre os gregos (com uma pequena alusão ao milagre do jarro de óleo). Por outro lado, a mitsvá prática de Chanucá – acender as velas – parece lembrar somente o milagre do jarro de óleo. Isso exige aprofundamento.

2) Nossos sábios estabeleceram 8 dias de festa pelos oito dias em que ardeu o óleo da Menorá – que era em quantia suficiente somente para um dia. Sobre isto, é famosa a pergunta do Bêt Yossef z”l: Sendo assim, por que nossos sábios estabeleceram 8 dias? Afinal, o primeiro dia em que a Menorá ardeu não foi um milagre. O Bêt Yossef dá algumas respostas. Na segunda resposta, ele escreve que os Chashmonaím dividiram o óleo que dava para um só dia em oito porções, de forma que já no primeiro dia, a Menorá não arderia por muito tempo. Mesmo assim, ela ardeu por uma noite inteira, conforme era preciso. Como é possível entender a conduta dos cohanim? Acaso eles sabiam que ocorreria um milagre? À primeira vista, eles deveriam colocar todo o óleo no primeiro dia para que, pelo menos naquele dia, eles pudessem cumprir a mitsvá! De acordo com a lei, a Menorá deve arder a noite toda, até o amanhecer. Nossos sábios deram a medida: meio log de óleo para cada vela. Nos demais dias, se não tivessem óleo, seriam considerados anussim – alguém que não cumpre uma mitsvá por motivos de força maior. De que adiantaria colocar um oitavo da quantidade de óleo em cada dia, de forma que não pudessem cumprir a mitsvá nem mesmo no primeiro dia?

3) Uma questão central na história de Chanucá é a seguinte: em toda a história de nosso povo, não vimos que os tsadikim se levantaram para anular decretos usando a força física e indo à guerra. No Egito, o Povo de Israel não se rebelou nem lutou; D’us os tirou de lá com milagres e maravilhas. Antes do exílio da Babilônia, o povo guerreou contra os babilônios para defender sua terra mas, uma vez derrotados e tendo início o exílio de Bavel, eles não tentaram se rebelar. O exílio de Bavel terminou simplesmente porque a Babilônia foi conquistada pela Pérsia, quando então teve início o exílio persa. Em Purím, os judeus jejuaram e Ester suplicou ao rei, mas ninguém pensou em começar uma revolta ou uma guerra contra o rei quando ouviram o decreto, somente no dia quando foram atacados então se defenderam e eliminaram seus inimigos. Em relação ao exílio de Edom, não encontramos nenhuma obrigação de anular o exílio por meio de uma guerra física[2].

4) O próprio fato de que os Chashmonaím (que eram treze pessoas de acordo com Rashí) saíram para guerrear contra o gigantesco império grego é incompreensível: de onde eles concluíram que poderiam vencer uma guerra tão ilógica?

5) O Midrash Bereshit Rabá 99:2 traz: “Yaacov preparou um filho para lutar contra cada reinado… Leví contra o reinado da Grécia… Nas mãos de quem caiu a Grécia? Nas mãos dos Chashmonaím, que são de Levi”. Vemos que justamente a tribo de Leví tem a força de vencer o reinado da Grécia. Por quê?

6) Chanucá sempre coincide com as duas parashiyot que contam sobre Yossef Hatsadik (Vayêshev e Mikets). Por que será?

Para reforçar ainda mais ainda a pergunta, o Shiltê Haguiborim[3] traz a seguinte tradição: a festa de Chanucá está implícita, na Torá, nas palavras “Utvouach tevach vehachen” (Bereshit 43:16), pois em hebraico, as letras em negrito da passagem  וטבוח טבח והכןformam a palavra חנוכה – Chanucá. Onde se encontra este versículo? Na parashá Mikêts, quando Yossef, vice-rei do Egito, viu Binyamin junto com seus irmãos. Neste momento, Yossef “disse ao encarregado de sua casa: ‘Traga estes homens ao palácio. Mate um animal e o prepare. Estes homens almoçarão comigo”, e dizem nossos Sábios que isto foi uma refeição em honra ao Shabat. A pergunta é: Qual é a relação entre este versículo e Chanucá? Se o Shiltê Haguiborim escreve que tem esta tradição, com certeza deve haver um significado profundo para Chanucá ser aludida justamente por meio destas palavras.

*

As características do elemento “ar”

Me parece que a resposta se encontra no fato de que o reinado da Grécia é ligado ao elemento ar. Analisemos, portanto, um pouco das características do elemento do “ar” (ou seja o conceito chamado alegoricamente “ar”, como explicado no capitulo anterior, e não ar propriamente dito).

Embora o ar seja parte da matéria, ele é o mais elevado dos quatro elementos, como que mais próximo do espiritual (em hebraico: Ruchaní – espiritual, é derivado da palavra Ruach que significa também ar, vento). Não é à toa que o Arizal (citado no capítulo anterior) escreve que o pecado feito com a fala depende do ar, pois a fala é o que há de mais elevado no ser humano e o difere dos animais. Por isso, o elemento do ar é expresso pela procura da sabedoria, filosofia e estética – áreas nas quais os gregos se sobressaíam – que, por um lado, são conceitos materiais, mas por outro, elevam mais o ser humano que o materialismo simples[4].

Desta forma, o o elemento do ar é uma “espiritualidade imaginária”, falsa, pois é uma espiritualidade dentro dos limites da matéria. É por isso que os gregos lutaram justamente contra a Torá e as mitsvot, querendo nos fazer esquecer a Torá, diferentemente dos demais reinados, que lutaram contra o lado físico do Povo de Israel. Tudo isso porque a verdadeira espiritualidade contradiz a existência da espiritualidade imaginária. A verdade pura sempre revela a mentira que está por trás da falsidade. Um belo quadro com uma paisagem pode ser espetacular, mas no fundo é uma imaginação. Quando o quadro é colocado ao lado da paisagem verdadeira, revela-se a mentira por trás da beleza do quadro.

Os gregos perceberam isso e este é o motivo pelo qual tentaram retirar justamente a espiritualidade do Povo de Israel, mas não o corpo. Mesmo no Templo, eles não agiram como os demais povos: enquanto os outros o queimaram e destruíram, os gregos o violaram e impurificaram, lutando contra a espiritualidade que havia nele.

*

O ar e a ousadia

Analisemos mais uma característica que pertence ao ar: a ousadia. Já que o ar é o mais elevado dentre os quatro elementos, a vontade que emana deste elemento tem o poder de elevar-se acima de todos os impulsos materiais e ignorar os obstáculos físicos para chegar ao objetivo almejado. Esta é a ousadia, azut. É comum pensar que ousadia é o contrário da vergonha. Isso também é verdade, mas não é exato. O antônimo de vergonha é a chutspá (falta de vergonha), a insolência. A ousadia – azut – é mais ampla. Significa a força de ignorar todos os limites para chegar ao objetivo, com determinação. Um dos limites ignorados é, de fato, a vergonha. O ousado ignora o sentimento de vergonha para chegar à meta que assinalou. Isso é correto em relação a todos os outros limites materiais, conforme disse Yaacov Avinu sobre seus filhos Shimon e Levi: “Maldita seja a sua cólera, pois ela é ousada” – a ousadia que Shimon e Leví tinham, fez com que ignorassem o perigo de desafiar todos os povos vizinhos frente ao objetivo de vingar a honra de sua irmã Diná. Agora é possível compreender por que o profeta Daniyel (7:6) viu o reinado da Grécia na forma de um leopardo. O Malbim ali explica que a característica do leopardo é a ousadia, conforme dizem nossos sábios[5]: “Seja ousado como o leopardo”. Por isso, no sonho de Nevuchadnetsar[6], a Grécia é comparada ao cobre. Rashí[7] explica que o cobre vem expiar a ousadia quando mal usada, por um jogo de palavras em hebraico entre nechoshet (cobre) e nechishut (determinação, ousadia).

Aqui cabe fazer uma observação. Existe um povo mais ousado que os gregos: o Povo de Israel. Conforme dizem nossos sábios[8]: “Israel é a mais ousada das nações”. Isso ocorre porque em nosso povo existe a espiritualidade verdadeira, que com certeza se eleva acima de todos os limites físicos. Isso é bem explicado pelo Maharal[9]:

“Saiba que a matéria é influenciável e, por isso, os seres humanos, que são feitos de matéria, não são ousados e duros. Já Israel, a quem foi dada a Torá, é totalmente duro e ousado. Explicamos este assunto em alguns lugares. É por isso que Daniyel viu a nação grega como um leopardo, que é o mais ousado.”

A partir destas palavras é possível resolver uma contradição aparente nas palavras de nossos sábios: por um lado, determinaram que Israel é a nação mais ousada. Por outro, disseram[10] que todos os descendentes de Avraham Avinu são tímidos. À luz do que vimos, não há contradição: a ousadia não é o contrário da timidez, mas é uma força capaz de ignorar a timidez e os demais fatores materiais. Por isso, mesmo que o Povo de Israel seja dotado de sentimentos de vergonha exagerados, tem a força de sobrepujá-los e ir de encontro ao seu objetivo. Caso o Povo de Israel não tivesse vergonha, seria chamado de “a nação mais insolente” e não “a nação mais ousada”.

Voltando ao nosso assunto: analisando a História mundial no ponto de vista cultural (tanto no que se refere a vestimentas e arquitetura, quando no que diz respeito aos padrões intelectuais e sociais), chegaremos à conclusão de que as antigas culturas eram relativamente parecidas umas com as outras, sendo que as diferenças culturais foram mudando gradualmente, até chegar o povo grego e criar uma revolução cultural, trazendo uma cultura totalmente nova e muito diferente de tudo o que existia até então. Isso é ousadia: nadar contra a corrente, mudando tudo o que se pensava, e não levar em conta a moda geral.

*

O antídoto

Uma vez esclarecido que a qualidade do povo grego é a ousadia, é compreensível que o teste do Povo de Israel[11], na época do reinado da Grécia, fosse postar-se do lado diametralmente oposto, sendo ousado na santidade: “ousado como o leopardo para cumprir a Vontade Divina”.

Justamente por isso, muitos membros de nosso povo assimilaram-se totalmente dentro da cultura helenista, pois não souberam se esforçar o suficiente para “nadarem contra a corrente” sendo ousados, permanecendo diferentes da cultura dominante. Este era o teste especial daquele exílio. De fato, não vimos que os judeus assumiram a cultura dos babilônios ou dos persas nos respectivos exílios, mesmo que estavam fora da Terra de Israel e viviam totalmente dentro destes povos. Este fato se explica porque este não era o teste dos outros exílios. Mesmo no caso de Edom, se pegarmos o exílio de quase 2000 anos como um todo, podemos ver como, na maioria do tempo, o Povo de Israel manteve sua forma e cultura de maneira excepcional[12].

Matityáhu Cohen Gadol e seus filhos compreenderam muito bem qual era o teste daquela geração e qual era o ponto de fraqueza. Por isso, entenderam que a única forma de consertar e salvar o povo seria uma ousadia exagerada para a santidade: não levar em conta nem mesmo os limites físicos. Por isso, os Chashmonaím foram lutar contra o poderosíssimo império grego – poucos contra muitos, fracos contra fortes – uma coisa que não tem nenhuma lógica pela natureza, pois sabiam que justamente um ato como este teria força de consertar a falha da impureza da Grécia.

Agora podemos entender por que justamente a tribo de Leví tem este poder contra a Grécia: esta tribo foi agraciada com uma ousadia a mais. Conforme vimos, Yaacov Avinu já afirmou isso sobre seu filho Leví e mesmo seus descendentes tinham uma ousadia mais enraizada que as demais tribos, que foi usada para a santidade: nossos sábios contam que no Egito, antes da escravidão judaica, o Faraó fez uma propaganda de solidariedade nacional convidando a todos os cidadãos a trabalhar voluntariamente nas obras necessárias para o governo. Posteriormente, o Faraó transformou este serviço em obrigatório, assim escravizando os judeus. A tribo de Leví foi a única que o Faraó não conseguiu seduzir a participar. Graças a isso, não foi escravizada como as demais tribos, pois soube ser diferente de todos e nadar contra a corrente. Mais tarde, no pecado do bezerro e outro, a tribo de Leví não foi arrastada pelo entusiasmo geral. Quando Moshê retornou e viu o que estava ocorrendo, clamou: “Quem é para D’us, que venha a mim!” Toda a tribo de Leví compareceu e cumpriu fielmente a ordem de Moshê: “Que cada um mate (todos aqueles envolvidos em idolatria), mesmo seu próprio irmão, amigo, próximo ou parente” (Shemot 32:27). Os Levitas, ousadamente, mataram todos os três mil pecadores de seu próprio povo, sobrepujando toda limitação sentimental do amor natural pelos parentes e amigos, para cumprir a vontade Divina. Antes de falecer, Moshê abençoou os Levitas da seguinte forma: “Ele foi aquele que disse ao seu pai e sua mãe: ‘Eu não os vi’, não reconhecendo irmão ou filho. Eles assim guardaram Tua palavra e preservaram Tua aliança” (Devarim 33:9). O Rambam[13] escreve que aquele que deseja ser como a tribo de Leví deve agir da seguinte maneira: “Retirar de seu pescoço o jugo de todos os variados cálculos que os seres humanos fazem”. Ou seja: sem fazer contas, sem limitações – a ousadia de santidade.

*

A ousadia que levou à luta

Outro detalhe que deve ser observado é o ponto crítico no qual os Chashmonaím decidiram agir e lutar contra os gregos: Meguilat Antiochus e os midrashim trazem que, no início, os Chashmonaím submeteram-se ao Império Grego e não tomaram nenhuma atitude, até que a filha de Matityáhu Cohen Gadol fez uma artimanha, pensando somente na honra Divina: na festa de seu casamento, ela rasgou suas roupas perante os cohanim. Estes quiseram matá-la imediatamente, ao que ela objetou: vocês querem me matar por isso e silenciam diante do terrível decreto de que toda noiva judia deve passar a primeira noite com o governante grego? Eles aceitaram o sermão e foram à guerra. Ou seja: ela foi a primeira a despertar o povo para a reparação, sobrepujando o sentimento de vergonha natural de qualquer mulher, muito mais da filha do Cohen Gadol, para chocá-los. Ela cumpriu literalmente o dito “Seja ousado como o leopardo para cumprir a vontade de seu Pai Celestial”.

*

A ousadia do milagre do óleo e a essência de Chanucá

À luz do que foi dito, poderemos entender também o significado do milagre do jarro de óleo. Lembramos, acima, as palavras do Bêt Yossef, segundo as quais os Chashmonaím usaram, a cada dia, somente um oitavo da quantidade necessária de óleo e esta quantidade foi suficiente para uma noite inteira. Questionamos por que os Chashmonaím agiram desta forma se não sabiam que D’us lhes faria um milagre. Não teria sido melhor colocar toda a quantidade necessária no primeiro dia, para que pelo menos uma vez cumprissem a mitsvá?

Agora sabemos que os Chashmonaím compreenderam que o momento exigia uma ousadia de santidade. Uma vez que eles precisavam cumprir a mitsvá de acender a Menorá por oito dias até conseguirem um novo óleo puro, colocaram diante de si este objetivo e ignoraram todos os obstáculos materiais. Assim, já a partir do primeiro dia, despejaram um oitavo do jarro como se este contivesse óleo para oito dias. De fato, D’us lhes deu sucesso, uma vez que era isso que precisava ser feito naquela hora.

Assim, o milagre do jarro de óleo não é um detalhe per si; ele carrega toda a mensagem e a essência da festa de Chanucá: ignorar os limites físicos e fazer a vontade de D’us. O milagre do jarro de óleo simboliza o significado profundo da vitória sobre os gregos. Por isso, quando nossos sábios perguntam, no tratado de Shabat, “O que é Chanucá?”, sua resposta é o milagre do jarro de óleo. Neste milagre se encontra a essência de toda esta festa e por meio dele é possível compreender bem o acontecimento histórico da guerra e seu significado. É por isso também que, quando nossos sábios procuraram um ato que simbolizasse a festa de Chanucá e proclamasse o milagre, escolheram o acendimento das velas. Por outro lado, quando oramos a D’us e agradecemos pelos milagres, não é hora de nos aprofundarmos na essência da festa e, sim, agradecermos pela própria salvação. Por isso, neste momento, detalhamos a salvação: D’us entregou os fortes nas mãos dos fracos, os muitos nas mãos dos poucos, e assim por diante, conforme consta no Al Hanissim.

À luz do que foi dito é possível entender bem por que a mitsvá de acender as velas deve ser feita justamente na rua, diferentemente da propagação do milagre nas demais festas: em Pêssach, devemos contar a história da redenção aos nossos filhos – em casa. Em Purím, devemos ler a Meguilat Ester – dentro da Sinagoga. Já as velas de Chanucá devem ser acesas aos olhos de todos, num horário em que as pessoas ainda andam pelas ruasjustamente devido à mensagem da festa: sermos ousados como o leopardo para cumprirmos a vontade Divina.

*

Chanucá e Yossef

Depois de todas estas explicações, podemos entender por que Chanucá coincide justamente com as parashiyot que falam sobre Yossef Hatsadik. Yossef era o paradigma da ousadia para cumprir a vontade Divina. Um rapaz só e abandonado no meio da mais depravada cultura egípcia consegue manter sua forma e não mudar nada do que aprendeu na casa de seu pai. Tanto quando era um escravo totalmente vulnerável e dependente de seu amo, como quando se tornou vice-rei e a honra poderia tê-lo atraído para ser parte integrante do Egito – Yossef ignorou todas as pressões e tentações, permanecendo fiel ao judaísmo.

De todos os versículos sobre Yossef, o que mais denota sua ousadia é este: “Utvouach tevach vehachen” – Mate um animal e o prepare. Yossef estava dizendo ao seu encarregado para matar um cordeiro – que era o deus dos egípcios – perante todos, para a refeição de shabat. Yossef ignorou todos os riscos e fez o que precisava ser feito em honra ao shabat, sem titubear. Por isto, a palavra Chanucá foi aludida justamente neste versículo, como citado anteriormente.

 

 

[1] Algumas destas perguntas já foram trazidas no capítulo 8, mas aqui as analisaremos sob prismas diferentes.

[2] O Gaon Rabí Elchanan Wasserman já questionou isto e escreveu uma resposta, aqui abordaremos outro meio de responder.

[3] Sobre Hagahot Mordechai em Shabat 2:3.

[4] Veja no livro Lev David, de autoria do Chidá, no cap. 7. Lá ele se da ao trabalho de provar que o estudo da filosofia não substitui o estudo do mussar. De qualquer forma, daqui vemos que é possível enganar-se e achar que se tratam de conceitos parecidos.

[5] Avot 5:20.

[6] Daniyel 2.

[7] Em Shemot 27:2.

[8] Em Beitsá 25b.

[9] Em Ner Mitsvá, parte 1.

[10] Em Yevamot 79a.

[11] No capítulo anterior (“A Raiz dos Quatro Reinados”) explicamos que o Povo de Israel tem  a missão de consertar todos os quatro elementos (fogo, água, ar e terra) para levar o mundo à perfeição, que são os dias de Mashiach. Isso é conseguido passando no teste de cada um dos quatro reinados, cada um com sua “especialidade”, de acordo com seu elemento.

[12] É verdade que nos últimos duzentos anos, nosso povo começou a se assimilar entre os povos exatamente como na época dos gregos. Está escrito nos nossos livros sagrados que, perto do final dos tempos, a Sitrá Achará (“o outro lado”, o lado da impureza) despertará para lutar com todas as armas disponíveis. Pelo que estamos vendo em nossa geração, “lutar com todas as armas” significa lutar com todos os quatro elementos, inclusive o ar.

[13] Leis de Shemitá 13:13.

Translate »
MIGDAL GOOD